28 de abril de 2011

Canção Óbvia

 
(Paulo Freire)
Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,:
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso, esperar, na forma em que esperas,
porquê esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.

Mamutes e Amores



Escrevia eu de Mamutes, concentrado em minha tese!
Lamparina acesa em meu quarto, bem cansado eu forçava um ensaio!
Mamutes, paquidermes? Quase isso! Que abuso!
Enfim, arrombando as paredes, aparece-me o tipo. Que raro!
Era ele, onipresente derrubando a casa!
Retorcendo seu marfim em cada página...

Bom... Impossível seguir meu estudo!
Ali estava, presente! Abusado! 
Escrever sobre o Mamute não podia...
Me pisava!
...
Escrevia eu de Amores, concentrado em minha tese...
Que assunto tão delicado!
Tranquei a porta assustado!

27 de abril de 2011

A Menina na Caverna



Entrei naquela caverna, ali uma menina
Chorava escondida, desesperada dizia:
- Meu tempo vai acabando, estou fria!
Desejei poupar-lhe de sua notícia-sina!

Voraz devorava o mármore! Seus caninos
e a gengiva em sangue mastigavam o vício.
Meu coração ouvia e badalava em sinos...
Búfalos em marcha sobre a derme de silício.

Deitei ali ao lado, uma cantiga fez a voz
Balançar em minhas cordas, que sem nós
Serviu como carinho, embalada ela dormiu!

Tenho pouco, quase nada! Mãos vazias, trago
Assim uma palavra, uma frase ou um fuzil
Meu abraço é abrigo a um amigo! Um afago!

Ou um tiro...
Meu refúgio é como exílio de naufrágios!
Ou um lírio!

26 de abril de 2011

O Eco, a Sombra e as Estrelas


Pouco tempo resta pra decidir a rota: - Capitão!!
Gritam: - Faz chorar a pedra! Essa é a tarefa!
Ampulheta que fratura a hora e dilacera a pressa!
Eis minh’obra dedicada à idade e a ilusão!

Vendo a memória, ninguém se interessa!
A cidade que ergo em meu verbo! Dédalo
Rasgando cada projeto e um beijo do objeto!
Resta uma dança para a despedida. Valso!

O anel ao dedo médio da menina mais sincera!
A escala domestica a fera, e meu lenço se encharca
de lembrança... Iço as velas, mordo as rédeas!

Encilharam meu cavalo, e meu nome vai bordado
Na bandeira hasteada, e meu eco acompanha o vento
Dorme a sombra, o instinto decidido berra: - Fica!

23 de abril de 2011

Tatuagem de Família




É claro que sabemos a origem, sempre sabemos! Mas a ignoramos para manter o ar de simplicidade e mistério! 

Essa é a tatuagem de minha família, nômade, bruxa, cigana, peregrina, maruja, viajante, artista, mambembe, faminta, distante, que brilha ali bem perto, num farol ao horizonte!

Ao fundo no maior círculo, esta o “C” de Campello, em forma de Lua, que nos rege!

Atravessando o “C”, temos duas ondas, uma côncava, outra convexa, que atravessa nosso alfabeto! Sempre nas marés que sobem e descem! Assim navegamos!

Nas ondas, surge uma ilha pequena, terra firme da família, da memória, segurança, porto de lembrança e saudade, onde nos socorremos quando perdidos nesse mundo!

Ao alto da Ilha, um ponto de referência, um farol que brilha! Que é como estrela ou um uivo para a matilha!

Um ponto que nos unifica, que relembra dos valores, dos princípios, das verdades primeiras... Do trabalho e sacrifício! Sim! Há que remar para chegar ao outro lado do oceano e conhecer as constelações!

Tatuada ao tornozelo esquerdo do lado de dentro!

Tornozelo por ser a parte que se dobra, articula, perto do ponto sensível de Aquiles, adaptável e frágil, que nos faz caminhar eternos, pelos caminhos do mundo!

Esquerdo por ser o lado do coração e do povo, associado à justiça!

Do lado de dentro para estar protegido em nosso interior, na caverna segura de nosso instinto!


16 de abril de 2011

FANTASIA MIGRANTE


Ponganle ojos cumpadres!
Diz ser corsário! Não creio...
Tem ar de delírio e amores
Nas margens do devaneio.

Tomem cuidado! É certo
Sua alma de profeta e o cajado
Vai rijo à mão esquerda... Profano
Diz ser cigano e fuma cigarro

Como um poeta, diz que vicia
Sua palavra imita a magia,
Grafia homeopática. Vigia!
E lê nos astros nosso destino!

Diz ter origem no Ganges
Que vem pra lá do Himalaia...
Cuidado! Fez um castelo do verbo
De verso fez a Cidadela...

Como um inseto, transmuta
E nutre-se como uma epífita
Crisálida sem casulo, caverna!
O fato concreto revela: é desempregado e migra!

15 de abril de 2011

Tropa serena




Bem manso, pedi abrigo
Ao irmão mais velho
Ele disse: - Bem vindo!
Que valha a vela!

São dois agora
Que de mãos dadas
Vão pela estrada
Meu assovio segue

Tenho um cachorro
Que sem coleira
Vai pelo pasto
Seguindo estrelas

Eu quero água
E faço trégua
Trago um canário
de asas contrárias

Somos os quatro:
Alma, Matéria, Instinto e Tempo!
Sobre essa terra, que é o cenário!

Canção em Espiral



E esse braseiro no meu peito mãe!?
Como é que apago?
E essa fornalha em minha boca mãe!?
Como é que calo!?

Essa ferida de amores mãe, será que cura!?
Esse sendero no deserto, Como atravesso!?

E essa vida de cigano pai!?
Como te vejo!?
E a memória do passado pai!?
Como desejo!?

E o que faço dessa pedra, amor!?
Em meu sapato!?
Como é que domo a besta-fera, amor!?
Em meu encalço!?

E se eu cair antes do tempo mãe!?
Como renasço!?
Diz-me qual berço traz de novo
O seu abraço!?

- É só o tempo! Velho filho!
- E o esforço de seus dois braços e o trabalho.
A sua luta eu abençôo, e reconheço seu recomeço...

Salva de palmas!

Faz dessas dúvidas, poemas, filho!
Vai dar a volta pelo mundo, anda!
Que nessa vida não tem trilho, voa!
Manda um postal da Patagônia, homem!

Vai meu querido, eu li num livro
O seu futuro será brilhante!!
Vai pela sombra e com cuidado!
Vai meu amado, de agasalho...

Li num diário bem antigo...
Que tens amigos por toda parte!
Que prosa boa, amor, eu digo!...
Eu agradeço em meu silencio: Muito obrigado!!

Que já confio novamente em minha historia,
Que tem tragédias como todas! Esse é o mistério:
Fazer do medo, ou da queda, ou do cansaço,
Que seja assim dança mais leve, um novo passo!

Cabeça erguida, essa é a marcha! Sossegue!

13 de abril de 2011

Desculpai-me insetos!


Já não há flores nos campos
Tampouco nas floriculturas
Nos jardins já não há pólen
Torturam-se as abelhas. Coitadas!

Desculpem se tomo de assalto
Todo perfume que posso e carrego
Comigo as cores mais belas!
A primavera em meu quarto!

É meu presente à donzela
Como frutos de meu trabalho
Eu suo e gargalho. É festa!

Desculpai-me insetos! Mas juro
Que lhes devolvo o néctar em troca
Desse poema, que dou para ela!

Dedicado com carinho à Francine Niesing

9 de abril de 2011

Mom made a doll



My mom made a doll

Mom went to the kitchen
I knew they're would be magic

_ Ah! Still amazes me!

With her hands full of clay
Rises another doll
Even more beautiful than the first

As always...

In her temple, clumsy between wires
She is a happy bunny, dancing within the thorns
Having fun in the haystack and smoke
Tangled up in hampers and baskets of all kinds
Through her bangs, she smiles...

Mom goes out
Excited, always brings new ideas
Inspired by owls and stars

Mom comes back from the park
Make-up of leaves and soot
With paper, glue, and a crumbled heart
She attaches a frame to the hamper
And adds more filling...

One arm falls off, a twisted neck in the morning
Another endless night
A new clay to be tried out

Mom goes to a dream
And from there, registers different recipes

I am her amazed son
Observing her work being created

Mom makes medicine
That keeps me happy all day long
It also heals her soul

It already has the exact texture of rough skin
That she wanted for her piece

Now she prepares the colour, to paint that someone

My mom makes a doll
For her son's heart

So delicated, she celebrates, proud and satisfied
Brings the whole party into my chest

Then she goes away... To the balcony, forever

Resting is the doll from the recipe
Like a muse floating over my dreams
Like mom going back to the kitchen
And fairies and witches watching over their sons
Whispering at the right moment
Swerving them from traps

My mom made a doll...
Sewed our family's soul
That dresses me with instinct and affection
And guides me forever in my path
To be a man filled with tenderness
Strolling through the adventures of life...

I'll forever thank you "Madrecita"!

Like "Pinocchio" I also...
Came to life and ran away from my "Gepetto"!

One day I'll be back...

One day I'll be back...

I don't think we ever left!

(Poem written without correction of words, just the way it is... The same way mom makes her dolls... Poem dedicated to my mom's hands, that will take care of me forever!)

Thank you my beautiful mom!




Tradução: Alice Campello

Adrift





Loosen up the rope just a little,
And trust the horse with my path.

The mist that surrounds me became permanent
My legs are relaxed and smoothly go
Through the grass and through instinct, there is no mystery!

See the god’s playing cards
And the gypsies, don’t show me the signs
And don’t tell me that the stars in their cycles
Are prophesying...

Loosen up the sail and slowly
I will aim through the hatch realizing
Which ocean sailed me that night
And where it have anchored my ship

Rediscovering the beach... The mermaids
And the forests will bring back
The desert that keeps my destine

I will let go the rope now
The currents will define my challenge!
I don’t look for any answer
I have soul and my character is who will draw my future!

Marcelo Campello

Tradução: Alice Campello

The poem's not love


I don’t love you, I know
Too bad you don’t believe it
And insists in something that isn’t there
It’s a trap. Beware!

I don’t love or fall in love
I can still approach you. Like a wolf without his pack
It’s just about scent and pheromone
This way you won’t suffer
The same way I won’t suffer
Control your demons
Castrate the evil

It’s obvious that I don’t love you
Desires are for the meat
Men’s necessity
For being so delicate I respect
The rules of flirting
Flowers on my bed and then I sing

Definitely I'll forget about you
Just like a wallet on the table
And because I’m a church lady
I won’t love you just because you are a bourgeois

When falling asleep
After orgasms and joy
Different dreams stumble by
And confuse my thoughts

I don’t love you because it’s too much
To love a fatigued man
You can’t buy it
Not even with jars of beer
Certainly I don’t love
Done

I don’t love you because I am brief
And you can take my feelings
As a lifejacket when you drown
Like wind
Like tobacco for cigars
Like fezzes
Just how the capitalists do
You don’t have my affection
Just my desire

I’m firm
I aim my goals
I control the bleeding animal

I don’t love you. I protect myself
Inside the shell without the pearl
Inside the snail
Under blankets and empty beds

I don’t love you because I don’t want to
Have on my side such torture
Forever and nocturne

I don’t love you and it’s decided
Abortion of the dream, ejected
I reject the project
These are my rights

Destroying the sand castle
I’m clear
So I take back this poem
Put my clothes on
It’s late. I better go home

Scream loudly on the street:
-COWARD!

Who cares? It’s late anyways…

Marcelo Campello

Tradução: Alice Campello

8 de abril de 2011

CANÇÃO MENINA


Homenagem que recebi hoje de manhã, de meu grande camarada Leandro Haua, em resposta ao poema que fiz para ele a algum tempo... 
Obrigado meu irmão castigado e querido!


CANÇÃO MENINA

Vejo as palavras que alegram o papel
Desenhando seu espírito. Enorme.
A cada verso entrego todos os sentidos,
E sinto em mim, seu coração.

Siga leve andorinha,
Sozinha em seu verão.
Descanse seu voo em ombro amigo
Beba muito líquido,
Não se alimente só de pão.
Aceite o convite de cada ninho,
Sem moralismo o verbo se faz canção.

Suas estradas são mais que caminhos
São veias abertas, sorrindo.
As veias de um errante coração.
Voe alto, veja de cima,
Seu coração é o de uma menina
Em eterna primeira paixão.

Turbulências e lírios não são destinos,
Mas caprichos das aventuras,
Os dois elementos da cor púrpura - histórica e atemporal.
Do horizonte que lhe é virgem.

Do chão de batalha lhe escrevo essa carta
Em quanto ouço sua canção soprada em meu ouvido:

O ALBERGUE ANARQUISTA 

7 de abril de 2011

Algum abandono previsível!



Tuaregs, beduínos, peregrinos
possuem apenas o que carregam.
Desejam as rotas libertas. Dezenas!
Defendem rebanhos e os destinos.

Ciganos não fazem guerras,
são clandestinos.
Não defendem territórios ou bandeiras!
Pelo contrário... São perseguidos.
Fronteiras são como muralhas
Que servem aos sedentários
ou ao império!

Os nômades, os forasteiros,
creio não haver entre eles
Castelos erguidos na areia,
Apenas passam, não ficam...

Artistas de circo gargalham
Dos homens que lavram a terra
Que para eles, são como palhaços!
 Marx diria: são proprietários
da força de trabalho que perdem
e padecem em seus ofícios!
Depositam trabalho sobre a matéria...

Todos que passam. Inclusive as gaivotas
que migram...
Todos que não erguem na terra
algum edifício!
Todos, eu sei, são mal vistos
Pelos que fincam raízes!

E bate o vento... e vem o inverno
Cigarras não forjam abrigos!
Eu vou com elas... Ninguém vai comigo!
Vantagem? Não sei... Eu sou leve
e sem refúgio...

Em meu sangue há muitas origens!
E vem a chuva molhando o poema...
É mais uma obra que abandono... Que pena!
Mas sigo sem pressa e despossuído,

Na tempestade que se aproxima!

Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina



A tradução que minha irmã fez do poema presente para elas... Vejam que lindeza e harmonia da família! Fico honrado e emotivo com as retribuições que recebo de carinho!
Obrigado Alice, que tudo ai no Canadá esteja no rumo de seus sonhos! Acho que em agosto eu vou mesmo hein! Me esperem! Beijos!



Look how beautiful! There they are, exactly…
The witches, young gypsies that dance!
They are my friends and all men too
They have always loved me!

Sweet flying, they drift unanchored!
Campello’s women, for centuries accumulated
From there, the mists of A...valon
Whispered in my ears: Love, be careful!

And warned me from the start, from my crib to the alphabet.
And later on and out of my cocoon
A young man, running on the roads
They sung for my soul: “Go for the shade, beloved”!

And blessed me Forever moths, the fairies!
From their barracks they sent me an angel
For every time I bleed And they hold me in their arms.
They guide me without saying a word
To places that have no footprints

And when the blaze on the chest becomes so strong,
Burning the savanna. A balloon rose to the sky
When they saw it, there I was, fallen, on the ground!
Pulse ripped! They raised my eyes over the mountains
And protected me from the silhouettes

I call them my friends
They are the three Maries, sisters
Their names is marked
On the bottom of my hourglass

Garnish Alice on my eyelid, the gold
Clarissa in my left shoulder, the incense
And Juliana in my ankle, the myrrh

Marcelo Campello

3 de abril de 2011

Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina



Mirem que belas! São elas exatamente!
As bruxas, as jovens ciganas, que bailam!
São minhas amigas e dos homens
As mesmas que sempre me amaram!

Adocicadas que voam, vagueiam desancoradas!
As da família Campello, por séculos acumuladas.
De lá, das Brumas de Avallon
Disseram em meu ouvido: Querido, cuidado!
E me alertaram do berço... ao abecedário.

E quando na adolescência, me tocam desencasulado
Um jovem, fugindo na estrada...
Cantaram por minha alma: Vá pela sombra, amado!
Assim, fui abençoado.

As mariposas de sempre, as fadas!  
De suas casernas enviam-me um anjo
A cada momento que sangro!
E me seguram no braço, me guiam. Caladas!
Por onde não há pegadas...

E quando o braseiro no peito,
Fez-se assim, agigantado
Queimando a caatinga. Subiu um balão ao céu
Quando viram, ali eu estava! Caído!
De pulso rasgado! Ergueram meus olhos
por sobre as muralhas!
Protegem-me das silhuetas

A essas mulheres, lhes chamo Amigas,
São elas, as três Marias Hermanas!
Seus nomes sacralizados
Na base de minha ampulheta!

Cravejo Alice na pálpebra! O ouro
Clarissa no ombro esquerdo! O incenso
Tatuo Jocasta, no tornozelo! A Mirra

PS: Ela vai rir do Jocasta, eu sei! Mas não cabia Juliana! Beijos minhas irmãs tão lindas e longe! Seu irmão já não é um guerrilheiro, mas segue na busca de alguma justiça e carinho! E sente saudades gigantes...

2 de abril de 2011

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Avisai-o! Ele ainda não sabe,
Mas cremos que já suspeita!
A obra está quase completa,
Mas vejam! Falta um acorde.
Percebam, é imperfeita!

O barro ainda sem molde,
A peça vai sem recheio...
Sussurrem seus devaneios,
Conduzam seus pesadelos!
Toquem o lóbulo esquerdo
Com a ponta dos dedos,
Mas não o acordem, é cedo!

Divirtam-se antes da queda
Icem as velas, provoquem incêndios
Lambam-lhe as labaredas
A língua e os lábios na terra,
O magma pelas veredas,
Piruetas sobre o abismo!
Os olhos repletos de areia
e fumaça. Quem sabe
de seu Destino? Em transe
balança na prancha o segredo!

Cimitarras na gávea,
Apontam para as pedreiras!

Cansados, eu sei... ele já deita
No sonho, avista o rochedo
E as ondas eternas
Caminha por sobre as pedras
Como cegos e profetas, tateia!
O barco nunca naufraga
Se desafias os deuses

Não meçam esforços
Falta um capítulo!
E nada sabe o caminho
O louco viola o medo!
A obra da vida inteira
Avisem-no, falta um roteiro!
Falta-lhe um mapa!
Um símbolo!

Simbad sugere sigilo!
Ele ainda não sabe
Que desde o início
em hipnose se dobra
Na rota do precipício!

Apenas lhe sigam,
Espíritos o protejam!
Ele vai se jogar...

Az-zaHar!
Assim aprende a voar!


AZAR - Nas línguas neolatinas (aquelas derivadas, como o português, do latim), esta palavra tem duas acepções de emprego, significando ela, seja “desgraça”, “infortúnio” ou “fatalidade”, seja “casualidade”, “acaso”. A origem do vocábulo, porém, é árabe - sendo a forma portuguesa uma adaptação fonética da palavra az-zaHar. Na língua árabe, az-zaHar é o nome que se dá ao “dado” - o pequeno cubo numerado que se emprega nos jogos. Neste exemplo, observa-se que nas línguas neolatinas a forma fonética do árabe se conserva, e que o sentido semântico primário, referente ao dado, se perde - ou, como também se pode argumentar, que seu sentido se mantém, mas deslocado, visto que é comum o jogo de dados - que se baseia em fenômenos casuais - redundar, para o perdedor, em infortúnio (latim infortunium, quer dizer, “ausência de [bom] destino”) ou desgraça (do latim disgratia, “má retribuição [dos deuses]”).

1 de abril de 2011

Então é assim que os poetas deliram?


Vou rasgar o sol com meus braços
E dali, puxar pela fenda dos elementos
Parindo do hélio, inteiro um planeta
Ou do hidrogênio

Ah, que hilário!!! Então é assim que os poetas deliram?

Vou recortar minha retina no gelo...
Congelar a pupila na imagem maravilhosa
Que são seu sustento, ou suas pernas
Pilastras romanas enrubescidas...
Colunas gregas, grinaldas agradecidas...

E na descida do Olimpo, salpicar de oliva
Sua pele, meu labirinto...

Ah, então descobri como fazem esses poetas!!
Tão divertido!

Mas que feio, meninos!!! Não exagerem!

Elas são lindas, eu sei, são nossas mulheres!
Mas elas percebem os superlativos, recuem!

Também queria ser desse tipo
de atleta gramático... Conquistar mil olhares!

Huumm, que delicia...

Mas vejam meus membros, não sou um atleta
Olímpico!

Imaginem! Quebrar tantos recordes!
Nunca... Bem que eu queria! Mas não me esforço!
Nem meu biótipo permite!

Ah, mas como desejaria estar ali pelo Nobel da literatura
Da química ou da medicina!
Mas meu raciocínio tortura e se inclina
Por um caminho mais largo, quem sabe, uma avenida!

Saramago que me abençoe!

Definitivamente, não faço parte do círculo!

E as musas, de mim gargalham!
E me divirto! Esse mundo é mesmo engraçado!
Não sirvo para soldado!

Sei que não danço em baladas...
Nem tremo de raiva com injustiças!

Mas para aquela ali meio escondida
Aquela, a que escolhi... meio desajeitada!
Ali na casinha de palha... ela descansa...

E o poema que trago...
Quase cerveja de trigo...
O mais bonito, é sempre da mesma matéria
Sussurradíssima ao pé do ouvido!
(recordem dos superlativos)
Compõe-se de uma só frase!
Ecoada e divina,
Leva-nos a loucura...
Basta: Eu te amo!
Ali eu deliro... e ela se vira... cai a noite
Me beija...
e ofegantes nos abraçamos!

Eu te amo mesmo... que coisa esquisita!!

Deixa escorrer a água querido!


Onde esta a menina
que escrevia de lágrimas?
Se bem me lembro
Era divino o poema!
Dizia: lágrimas não choradas
Bem pronto, correm pro outro lado...
Ou seja... pra dentro da alma...

Enraizavam com força, se enterravam
no fundo de um poço
onde um caroço crescia...
lento e desesperado!
Os membros se retorciam

As lágrimas formavam um lago.
Profundo o desgosto
De ali, ser assim afogado!

Onde esta a menina?
Que recitou tais palavras?
Coitada! Não sei seu destino...
Imagino que no abismo do lago,
Ela repouse bem breve
Em suas margens,
dali entoando a cantiga
Que diz bem suave:

Deixa escorrer a água querido!
Para o outro lado...
Para o outro lado, menino!
Para não inundar sua alma
Nessa lagoa de mágoa...
Oceano salgado e solitário!
Cuidado!