8 de novembro de 2009

Nuvem de Calças

Fragmentos... (Maiakóvski)

Alo!
Quem fala?
Mamãe?
Mãe!
Teu filho está esplendidamente enfermo.
Tem um incendio no coração.
Dize às manas Ludmila e Olga
que ele já não sabe pra onde ir.
Que cada palavra
Até a mais leve graça
que lhe sai da boca ardente
salta como uma prostituta nua
fugindo de um bordel em chamas

As gentes farejam:
_ " Cheira a queimado!"
Chamaram a quem?
Brilham capacetes...
São inúteis essas botas gigantes...
Dizei aos bombeiros
que subam ao coração em chamas
com um par de carícias!
Eu mesmo
derramarei de meus olhos
tonéis de lágrimas.
Deixai que eu me apóie
em meu próprio peito.
Saltarei, saltarei, saltarei!
É inútil. Tudo desaba.
Jamais fugirás de teu próprio coração.

No rosto queimado
pela fenda dos lábios
um beijo carbonizado
assoma
pronto a saltar.

Mãe!
Não posso mais cantar.
No templo de meu coração
o altar está em chamas!
Palavras e números
como figuras ardentes
fogem de meu crânio
como crianças de uma casa em fogo.
Era assim que o pavor
de não poder agarrar-se nas núvens
erguia os braços-labareda do Lusitania

Ante a tímida gente
que vive na paz caseira
ergue-se um halo de incêndio
de mil olhos.
O meu derradeiro grito!
Dize aos séculos futuros
pelo menos isto:
Que eu estou em chamas.

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