Muitos conhecem o conto de fadas
do Flautista de Hamelin, reescrito por diversas vezes, inclusive pelos Irmãos
Grimm.
Resumidamente é uma cidade infestada
de ratos, que alimentam-se dos estoques de comida nos armazéns e um prefeito
gordo faz uma promessa de recompensa prometendo uma moeda de ouro para cada
cabeça de rato. Aparece um flautista misterioso com roupas coloridas que toca
uma flauta e leva todos os ratos para um rio, onde são afogados. Os cidadãos
fazem uma grande festa mas esquecem do flautista, que retorna e pede a
recompensa. O prefeito utiliza-se de uma artimanha e diz que o flautista não
apresentou as cabeças dos ratos e por isso não recebera pagamento algum. O
flautista vingativo, começa a tocar outra canção encantadora que passa a atrair
todas as crianças da cidade, os adultos trancam-se na igreja. As crianças
encantadas seguem o flautista para uma caverna distante onde são trancadas para
sempre e nunca mais retornam. A cidade fica silenciosa e triste, com os
armazéns repletos de comida e ouro guardados. Dizem que até hoje não há ratos
na cidade, que inclusive foi um dos lugares intocados pela Peste Negra
transmitida pela pulga dos roedores.
A história baseia-se em fatos
reais, quando em 1284 na Alemanha Medieval (Saxônia) na cidade de Hamelin, diversas
descrições histórias relatam o desaparecimento de 130 crianças da cidade. Ainda
hoje, há inscrições nas paredes das ruas, nos vitrais das igrejas e uma rua
onde não se pode dançar nem tocar música, chamada Bungelosenstrasse (Rua sem
Tambores).
Há diversas teorias que tentam
explicar o mistério que levou as 130 crianças embora para sempre... dizem que
foi uma arregimentação dos cristãos para lutarem nas cruzadas, ou que foram
vendidas para colonizarem a Romênia, já que a cidade estava em crise de
alimentos e não poderia sustentar tantas bocas, há teorias de pedófilos ou
serial killers que as levaram para as florestas vizinhas e ainda teorias
conspirativas de abdução por alienígenas... Não há conclusões exatas do que
houve de fato, no entanto as 130 crianças realmente desapareceram, mas
obviamente o flautista é uma alegoria criada ao longo dos anos para representar
algo mais profundo.
O fato deu origem a lenda, a
história perpetuou-se no imaginário coletivo devido ao grande impacto em nossa
psiquê profunda, assustando-nos sobre a possibilidade real de nossas crianças
irem embora, significando a perda da perspectiva do futuro, ou a interrupção de
nossa linhagem e perda da fertilidade natural.
Analisando os arquétipos das
figuras, a cidade e o prefeito representam o indivíduo carregado de culpas e
frustrações, que seriam os ratos... O indivíduo faz promessas e apela para
meios artificiais e mágicos para livrar-se dos problemas, mas logo a mágica
volta-se contra o aprendiz de feiticeiro passando a comprometer seu futuro, levando
embora as perspectivas de continuidade e seus bens mais preciosos.
Tenho percebido diversos desenhos
infantis, a temática do roubo de ovos, no caso dos Porcos dos Angry Birds, em
um episódio da Era do Gelo (especial de Páscoa), Como Treinar seu Dragáo, Turma da Mônica, enfim...
Paralelo a isso, nossos hábitos
modernos, fazem com que haja uma real diminuição da fertilidade da terra necessitando
cada vez mais de químicos para que as sementes germinem e isso associa-se à
queda da taxa de fertilidade humana e animal, devido ao bisfenol A (BPA),
dioxina, atrazina e vários ftalatos (BBP, DEHP, DOP e DBP), presentes em quase
todos os produtos que utilizamos em nosso dia a dia, com "clara evidência
de perturbação da atividade endócrina, segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS). É comum conhecer um ou mais casais em clínicas de fertilidade tentando
engravidar de todas as maneiras possíveis. Nosso futuro roubado!
Agora aparece a Momo, escultura
japonesa de Keisuke Aiso, assustadora e terrível que aparece em vídeos infantis
do Youtube e redes sociais, transformada num jogo macabro que desafia as
crianças a suicidarem-se sem contarem nada para os pais ou as consequências
serão ainda piores, ao fundo uma música hipnótica. Assisti alguns vídeos, são
terríveis! Impossível não associar com a Baleia Azul!
O flautista de Hamelin reaparece
na cidade tocando uma canção assustadora para raptar nossos filhos novamente,
agora a doce flauta aparece em sua mão num formato retangular que emite luz,
parecendo ser um celular atraente!
Alerta geral!!!! Reuniões nas
escolas! Pais, bloqueiem o Youtube! Desinstalem o Whatsapp! Arranquem os
tablets das crianças!!! Convocam-se autoridades!! O Ministério Público exige
explicações!! Diretoras das escolas, tranquem os celulares nas gavetas!!! Mas a
música do flautista segue infiltrando-se pelas frestas da sociedade, melodiosa
e hipnótica como no passado, alguns pais fogem para as igrejas para rezarem e todos
conversam sussurrando e apavorados pelos corredores, perguntando: - O que está
acontecendo nesse mundo?? Quem é capaz de criar esse absurdo??
Também me encontro assustado, tomando
todas as medidas recomendadas e refletindo sobre o que fazer, mas o fato é que
outras Momos de Hamelin virão, em outros formatos de mídia, mensagens
subliminares, roupagens coloridas, sussurros melosos e tentadores, jogos de
desafios destrutivos, convocações aos atentados, misteriosos acordos e pactos
sedutores... ninguém sabe, de onde vem e onde acaba, qual a próxima onda.
Esqueci de dizer que na história
original, três crianças não seguem o flautista, uma cega, que se perde no
caminho e retorna, um menino de muletas que, sendo lento, não acompanha a turba
e um surdo, imune à melodia mágica, permanece em sua casa.
Obviamente o flautista, a Baleia,
a Momo, pedófilos, drogas... são os vilões da história, repito, são os vilões
da história, não tenhamos dúvidas, mas quantos de nós, pais, temos agido da
mesma maneira que o Prefeito da Cidade, que carregado de tarefas, pequenos
vícios, alegando falta de tempo, temos abdicado de nosso papel primordial de
educar e acompanhar nossos filhos... Como os cidadãos adultos de Hamelin, temos
acumulado problemas e realizado falsas promessas para nós mesmos, temos exigido
de nossos filhos, comportamentos em que não somos exemplos... O pai se
pergunta: - Quem raptou meu filho? Mas pare e pense, antes esse filho deve ter
se perguntado: - Quem raptou os meus pais? Não existe espaço vazio, alguém
substituirá nossa presença.
Sei que nosso tempo é curto e
passamos mais tempo no trânsito que com nossos filhos, que o trabalho nos
ocupa, que o patrão nos enche o saco, que a casa ta uma zona, e minha vida e
minha conta no banco é uma bagunça, isso sem falar nos pais que também estão viciados
em outras drogas e ausentam-se ou violentam seus filhos. Mas essas Momos
aparecem como algo que nos faz parar tudo e refletir sobre o que temos sido e
qual o reflexo disso na personalidade de nossos filhos.
O fato da criança surda ser imune
à canção, para mim é o mais significativo, claro que não adiante tapar os
ouvidos nem cegar as crianças. Há que preencher esses sentidos com muito
diálogo e carinho, educando-os para que não cedam à sedução misteriosa ou ao
medo de ameaças alheias, tendo em sua família os soldados de primeira linha, pois
confia no exemplo e nas conversas com os pais, as pessoas que mais confiam e
que tem o dever se conversar e explicar todos os assuntos desse mundo, sem
tabus ou terceirização da educação para a internet, onde não importa o rosa ou o
azul, príncipes ou princesas, há que colocar-se ao nível das crianças mas sendo
real e objetivo.
Para que entendam as ameaças
concretas contidas nas entrelinhas dos estranhos sedutores, que denunciem as
violências, conversem sobre abusos, defendam-se da agressão e bullying, entendam
sobre sexualidade, respeitem o diferente e principalmente que brinquem e dialoguem
com a família.
Repletas de boas experiências e
de laços familiares e comunitários, serão surdas para qualquer tipo de violência, mas com
bons ouvidos para a realidade, para as conversas e o carinho de seus pais.
Perfeito!
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