30 de junho de 2025

Ela odeia os poemas!

Ela odeia os poemas,

Me diz que as cansa ou tonteia

Reprime as pobres rimas

Fazendo as caretas mais feias.

– Em vez disso, vá carpir mato!

– Larga da pena!

– Cuida dos porcos, que dá mais dinheiro!

Ela rebola saindo de lado!

Vai reto para o chiqueiro!

– Ah, meu querido, que chato!

Diz ela, sempre sincera e boceja.

– Peneira um pouco de areia!

– Mistura com pedra e cimento!

– Tijolo alinhado e perfeito!

Ela odeia poemas!

– Ajuda na janta, marido!

– Corta a carne, tempera!

E imperativa decreta:

– Esquece esses devaneios!

Eu, de soslaio, ensaio estrofes...

E logo me calo completo…

– Teu filho aguarda um cuidado!

– Mal sabe do alfabeto!

– Gagueja no abecedário...

Larga as estrelas, Marcelo!

Ela segura uma vela!

Lava, cozinha e trabalha!

Martela na tábua, um prego!

Num grito, espanta fantasmas.

Fantasia é um desrespeito!

Repito o poema em meu peito,

Suspiro no quarto inquieto.

Ah, meu poeta! Ela diz:

– Deita ao meu lado!

– Faz a carícia, beija meu colo!

– Ai, que delícia...

Deliro em deleite!

Enfim... a calma nos deita.

Ela me diz bem mansinha!

- Poema de verso, detesto!

- Eu gosto da rima no gesto!

Daquela escrita com corpo

Suado, que marca o espaço


Que cuida da casa, da alma, da lida!

Que planta na Terra um pouco de vida

Que carpe a erva do milho

Que senta ao lado do filho e ensina

Que deita ao lado da esposa e ama! 


é meu poeta perfeito! 



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