Ela odeia os poemas,
Me diz que as cansa ou tonteia
Reprime as pobres rimas
Fazendo as caretas mais feias.
– Em vez disso, vá carpir mato!
– Larga da pena!
– Cuida dos porcos, que dá mais dinheiro!
Ela rebola saindo de lado!
Vai reto para o chiqueiro!
– Ah, meu querido, que chato!
Diz ela, sempre sincera e boceja.
– Peneira um pouco de areia!
– Mistura com pedra e cimento!
– Tijolo alinhado e perfeito!
Ela odeia poemas!
– Ajuda na janta, marido!
– Corta a carne, tempera!
E imperativa decreta:
– Esquece esses devaneios!
Eu, de soslaio, ensaio estrofes...
E logo me calo completo…
– Teu filho aguarda um cuidado!
– Mal sabe do alfabeto!
– Gagueja no abecedário...
Larga as estrelas, Marcelo!
Ela segura uma vela!
Lava, cozinha e trabalha!
Martela na tábua, um prego!
Num grito, espanta fantasmas.
Fantasia é um desrespeito!
Repito o poema em meu peito,
Suspiro no quarto inquieto.
Ah, meu poeta! Ela diz:
– Deita ao meu lado!
– Faz a carícia, beija meu colo!
– Ai, que delícia...
Deliro em deleite!
Enfim... a calma nos deita.
Ela me diz bem mansinha!
- Poema de verso, detesto!
- Eu gosto da rima no gesto!
Daquela escrita com corpo
Suado, que marca o espaço
Que cuida da casa, da alma, da lida!
Que planta na Terra um pouco de vida
Que carpe a erva do milho
Que senta ao lado do filho e ensina
Que deita ao lado da esposa e ama!
é meu poeta perfeito!
Nenhum comentário:
Postar um comentário