(Tenho que terminar e melhorar as ideias)
Eu, sendo empático com Deus...
Eu, sendo empático com Deus,
coloco-me em seu lugar... e penso no fato:
Como, sendo Pai de bilhões,
jogaria um único filho aos tubarões —
só pra depois, no último ato, salvá-lo?
Eu, sendo Deus, refletiria:
Com todo o poder que me cabe,
por que utilizar o medo, a culpa,
quando não me escutam,
quando não seguem meus conselhos?
Deixar que um filho erre — e ainda assim o julgar,
sem nunca lhe educar com método, ética, amor?
Tendo tanto poder, escolher às vezes a dor,
para mostrar-lhe os efeitos da desobediência?
Como assim?
Sendo um Pai capaz de toda ciência,
não utilizar paciência, respeito e carinho?
Mas não... prefiro julgar, ameaçar com espinhos,
exigir penitência, condenar quem não me aceita.
Agora, eu, humano, pai de dois filhos,
num pensamento moderno...
olho pros meninos e penso:
por mais que enlouqueçam,
jamais, jamais os abandonarei ao inferno!
Dar-lhes passagem sem volta
pra perto do Fedorento?
Como assim?
Sendo um Pai, punir meus rebentos
por uma mordida num fruto? (do conhecimento...)
Criar o veneno, o erro, o tormento,
pra testá-los em guerra e sofrimento?
Ah, não.
Essa história não convence.
Um Deus onipresente,
que, vendo um filho cair,
não cede o braço potente,
não oferece o elixir...
Por que não educa, abraça, carrega?
Por que não estuda um meio mais leve?
Por que não guia a mão?
Que Pai é esse? —
O menino, abandonado, atravessa a rua...
bêbado, cambaleando,
os caminhões buzinando...
e o Pai, sorrindo em desleixo?
O Senhor dos Destinos te espera,
faz invernos e primaveras...
Ancestral mais que ancião.
Supostamente é um sábio — tudo de bom lhe pertence.
O mal? Ah, o mal é do Diabo...
Fácil assim ser Deus:
fazer o filho, abandoná-lo,
criar um mapa secreto do tesouro
para o Reino dos Céus.
Seria um Pai... ou um Pastor?
Quer homens... ou deseja ovelhas?
Quer apagar as centelhas
que aprendemos a criar?
Como assim...
ser tão amado e temido
por um filho desprotegido
que ora por salvação?
Salvar-me do quê, Senhor Pai?
Que crime eu cometi?
Se meu filho me diz:
“Eu gozei... eu sorri...
eu roubei... eu falhei” —
muitos crimes ele cometeu.
E sendo pai... o que faço?
Abandono-o ao...?
Não.
Eu, filho da Terra, tropeçando entre pedras e abismos,
salvei-me sozinho.
Não por orgulho...
mas por amor à vida que me deste.
Aprendi a colher abrigo no caos,
a tirar beleza do pranto,
a construir com as sobras do abandono
uma ponte até o amanhã.
E por isso —
obrigado, Pai.
Por mais torta que tenha sido tua mão,
ainda assim, moldou-me o sopro.
E com esse sopro, eu criei lume.
E com esse lume, fiz lar.
Mas se me escutas agora,
como filho que não te teme — mas te compreende,
te deixo um conselho,
não como súdito...
mas como um homem que amou no escuro:
Da próxima vez que fizer um mundo,
fica por perto.
Ensina com afeto.
E ouve o choro dos teus —
não como sentença,
mas como convite.
Porque até um filho perdido
pode ser farol...
se o Pai um dia quiser voltar pra casa.