Era ela da Santa Igreja, dos votos
formais
Sendo assim uma espécie de Santa,
dessas Celestiais
Eis que um dia, uma dor lancinante,
vem arrancando Ais!
E descobre o sarcoma de um câncer,
em seus órgãos vitais..
Em delírios agora, os anjos vestem aventais
E lhe dizem que o tempo é curto, um
ano, não mais!
Ela grita, implora, se agita,
procurando sinais.
Sua dor aprofunda na alma, já em
tons infernais.
Procissão entre exames modernos em mil hospitais
Sua fé derrubada na lama, em murros
doutorais.
Quando um velho, na fila sussurra, conhecer
os canais
Incomuns, mas que viu em milagres,
quase angelicais...
Diz-lhe: - Virgens quando semeadas,
em altares sacrais,
São tocadas por todas as almas das mães
ancestrais
Que lhe curam dos males da carne e
dos espirituais
E a doença que hoje lhe doma, evadir-se-á
nos ervais...
Ela roda,
delira, ensandece, sonha pedras moais...
Sendo freira,
o remédio lhe ronda como fossem chacais
Farejando
seu sexo em protesto. Cavernosos carnais
Ser abertos
por um bom motivo e por velhos punhais...
Sua alma, entre um rito e os votos,
faz-se em vãos espirais
Nos rosários clama conforto à carne,
e ao espírito paz...
O dilema entre conceber “vida” com
fins medicinais
E arrancar suas pétalas rosas, de
fins ornamentais...
Nesse transe, ela implora um milagre, como nos rituais...
É levada a uma dança antiga, sente
o som de tambores tribais...
...
Rompe a porta um homem moído,
fedendo a animais.
A violenta no altar sagrado,
agressões são seus ante-nupciais
Ao final, muito sangue em seu
corpo, já é tarde demais...
Sem perdão da igreja, a mocinha, foi viver num bordel.
Já sem dores por dentro da carne,
lança graças ao céu!
Acalenta a prole em seu peito, e
sem pai no papel.
Na prisão um doente alucina, lança brados: - Meu nome é Gabriel!
Na cadeia um demente delira: - Meu
nome é Gabriel!