31 de outubro de 2009

O silêncio

O silêncio

Essa é a voz do silêncio, que vem quando todos deitaram...
E resta pó de silício de alguma lembrança...
É a paz de um quadro vazio, preenchida de tempo passado... não tempo perdido...
Chega a vez de um suspiro, profundo e muitas vezes matado... Não tempo esgotado...

Respira meu filho, abrindo com calma os alvéolos deitados...

Um vento que passa por seu ouvidos,
Fazendo chiar os cabelos compridos...
Essa fumaça que passa e ao pulso te abraça
E num impulso estás em outra galáxia...

O som que propagas no vácuo...
A luz que absorve o impacto...

Observe o som do silêncio...
Respire-o em suas falésias, por sobre os abismos...
Nevoeiro calmo em suas pupilas... retidas...
Catarata densa em cega amnésia...

Flutuas como amantes de Chagal...
Lambdas bambas sem variação...
O som paralítico em decomposição...
Inflama como incenso de Nepal...

Essa é a surdez de quem olha pra frente
Sem pressa de olhar para trás...
Silêncio como um guia reluzente...
Silêncio, de asas dadas albatroz...

Segue em espirais por esquinas de um Velho Arcary...
Segue as lagartas de conhecido Iasi...

Silencio... faço velhas orações...
Ergo um lenço bem florido...
Mas quero paz... Quero sim, uma paz sem desperdício...
Quero sim, mais iguais que divididos...

Silencio... ouço vozes murmurantes, ciganas bolas cristais...
Silencio... observo lá de cima, os segredos abissais...
Silencio... meto a pata nessa água, nenhum mago te falarás...
Silêncio... a voz do futuro nos chama... Não tem anjo ai por detrás...

Ergo os olhos... e as vozes mais remotas
Reclamam antigas seus postos contumaz...
Busco as pedras, dobro a espalda...
O futuro irradia uma chama incendiante...
Não tem volta, não tem... não tem volta...
Não tem volta que queira mais... Apenas as espirais...

E o silêncio dos fantasmas está marcado em nossas costas...
Não tem espelho que faça dobras... Não tem... não tem dobras...
Apenas os partos... E um instinto que caça... Que persegue a codorniz...

E um instinto que pare... Que pari... Que pari sempre a mesma raiz...

Esse é o silêncio meu filho... Aperte sua mão em reverência...
O silêncio que o tempo lhe traz...
O silencio de quem navega...
O Oceano de tempo que tragas e te carrega...

Segue meu filho... não tem mesmo mapa que lhe sirva...
Segue meu filho... pega na mão do que tem multidão...
Segue meu filho... O Velho Timoneiro te chama...

É apenas o som do silêncio... em espirais...

Vai... vai... vai...

30 de outubro de 2009

Lapidada por Estilhaços



Lapidada por Estilhaços

Poderia lançar-te à rua como o Ourives Parnasiano,
Esculpida com lentas salivas... perfumada para o prelo...
Ou envitrinar-te pálida como el viejo vaso grego...

Mas ponho-te imediata, urgente e sem segredo, em desespero...
Vestida ainda em placentas, nas ruas vais nua em pelos...
Sem cesárea ou banheira, nasceste assim pela terra, escorrendo pelo bueiro...
Na pressa de quem tem sede ou na fome de um mundo inteiro...

Como uma marcha revolta...
Filha do homem, sem tempo para ter medo...
Avança o meu poema como uma turba confusa e concisa...

Poderias ser como a musa num museu estatuada...
Ou no Louvre emparedada como a Lisa...
No entanto, és medusa rabiscada... És a mona primitiva e obtusa!

És semente plantada, quase escondida... fecundando milhões de hectares...
Ser bruta matéria-prima florida... e repartida...
Como a prole que se multiplica... Incêndio que se propaga...

Poderia domesticar-te ate saíres perfeita, saltitando por avenidas, abotoada...
Nas valsas ver-te rodar como palpitante estrela... Serenata serena...
Mas sei que nasceste em silencio, ao aborto, sobrevivida... Sirenes ligadas vermelhas...
Assim vai meu poema... pelas veredas...

Poderia ter-te em pérolas adornadas, em prêmios embevecida...
Mas seus nervos foram forjados em fábrica, por mãos operárias parida...
Suas paredes são mãos calejadas, pedra a pedra por pedreiros...
Assim vai meu poema... pelos sendeiros...

Poderia ver-te casada na igreja,
no altar como deusa, com homem de boa família...
Mas o sangue estivador tem a dose exata de suor, boa dose de licor...
E sabem colher com suas mãos, a carne das ruas salgadas...
Assim vai meu poema... pelas estradas...

Poderia sim, entoar versos idílicos dos antigos menestréis feudais...
Com liras afinadíssimas e seus baluartes bacantes, seus bandolins enfeitiçados...
Tocando flauta pelos paramos, poderia travestir-te de cordeiro e espalhar a boa nova de seu parto... Fantasiar sob o pelego da ovelha...

Mas te projeto como um punho cerrado de raiva...
Do pavio querendo a centelha...
Pronta para enfrentar bombardeios...

Poderia eu, como pai... lapidar-te com detalhes... séculos de pinceladas...
Para ver-te repartir a luz nas sete cores primárias...

Mas sei que és mal acabada, rebentada com navalhas em suas carnes...
Foste entalhada com machado sem fio...
Meio aleijada, retorcidos os joelhos...
Nos muros, podendo ser lida nos becos quando estala a luz do alumínio negro...

Mas te vejo assim, lapidada apenas por estilhaços, granadas, obuses...
Explosão de morteiros... Fogueiras... Tiroteios...
Queimando em brasa seus calcanhares... Isqueiros...
Fumaça de fósforo branco sufocando os ares...
Nossa garganta em chamas procura por água, encontra o lacrimogêneo...
Respira esse pano embebido em vinagre... Sai pela rua desesperada, salva-te... Ligeiro...

Não temos tempo para acabar o poema...

Queimaduras por fósforo branco, bomba proibida como arma pela ONU, mas utilizadas indiscriminadamente contra o povo iraquiano e palestino pelos EUA e Israel.



Pessoas são como países...




Pessoas são como países...

Pessoas são países, também tem suas fronteiras...
Guardadas por tropas armadas, polícia treinada, cachorros sombrios...
As vezes bem delimitadas... Traçadas de rios, desertos, praias... secretos oásis...
As vezes meio difusas, são linhas imaginárias... As vezes são cordilheiras...

As vezes em guerra, cicatrizes se enrolam em gazes...
Pessoas são como pátrias... em suas praças erguem bandeiras...
Pessoas se armam como fragatas, nuclearmente se desenergizam...

Pessoas...
Se fecham como Coréias, se abrem como mercados...
Se matam como cordeiros... retorcem-se como ciprestes,
Apressam-se como coelhos...

Pessoas as vezes em pazes se trancam nos paraísos...

Pessoas são países... Trazem uma bomba no peito... são árabes desesperados...
Rota a memória de um povo...
Apagam suas cantigas, suas histórias, suas raízes...
Sua cultura, seus mistérios... se calam suas esfinges...

Pessoas tem leis seculares, seus túmulos...
Tem lapides frias esculpidas em mármore...
Onde guardam mártires já olvidados... Já esquecidos... Bombardeados...

Pessoas tem sonhos que são reprimidos...
Desejos não concretados... Problemas mal resolvidos...

Para entrar em seus domínios... Precisa de um selo, um visto...
Que permita o passo no território como turistas distraídos...
Sendo o preço do passeio, o livre rodar do destino...

Passaportes vencidos, somos repatriados... na força bruta de um exílio...

Que alguma embaixada permita-me o beijo...
Um consulado que o pranto console...
Que a ONU empreste seu ombro desconfortável...

Que eu aliste meus devaneios em brigadas populares, barricadas vermelhas...
Derrotar “Charle de Gaulle” em meia oito referendo

Sin el permiso, penetram pelos atalhos, são ciganos clandestinos...
Simples refugiados, ou fraternos foragidos...

Pessoas são velhos castelos que precisam ser derrubados...
Por mãos de mouros escravos, por sangue árabe bravo...

Pessoas são latifúndios...
Cercados, improdutivos...
Que precisam ser ocupados... semeados, inteiros... Por mãos campesinas, nutridos...

Pessoas são países onde por vezes ardem batalhas...
Cai o poder instituído, queda da Bastilha... E vibra sonoríssimo badalo...

... Depois da última pedra, abrem-se as grades para soldados sem fardas... Desuniformizados, rotos, barbados, descansam nas margens dos rios...
Prontos para pousar os cravos em nossos fuzis carcomidos...

Pessoas precisam de pontes rústicas sobre os fossos ressecados...
Escadas que ultrapassem os muros de pedras erguidos...

Murcham velhas tradições podridas... acendem-se velas...
Voam paliçadas militares, abre-se a cidadela...
Dandara se ressuscita em páscoa!

Uma cadela no cio nos perturba o sono... E cachorros a perseguem...

Nas mãos de um povo cansado, erguem-se vivas novas canções... hinos se fazem...

Amor, sei que terás novo porto... e assim, no frescor de uma maré, sinto a brisa marinha bafejar minha face, convidando para singrar novamente os mares...
Sangrar novamente o peito... talhar devagar os mastros... costurando as velhas velas...

Vou acendendo a fornalha, preparando o fôlego do fole... Passo em vista a casa de máquinas, o carvão, o óleo cru e a dinamite...

Cão perdigueiro...

Amor... sei que feridas são cicatrizes... e temos as chagas...
Amor. Sei que pessoas são como países... e temos as chaves...

Aqui eu te ergo, aqui tu me fincas...
Aqui te semeio, aqui te enraízas...

Bem vinda, por inteira em meu peito!

19 de outubro de 2009




Passeio no Cristo Redentor e Santa Tereza, depois encontramos a Belzinha, CIça e Leidi...
Tico e Mila, Ju e Troy e eu e meus sobrinhos... Gabriel e Belzinha... Gabriel fazendo careta e Belzinha meio chorona porque tava se despedindo da gente...

9 de outubro de 2009

Bailas comigo pela eternidade?

Chegou a hora da ventania...
De cavalgar esse horizonte con mis patas centáuricas, mis sagitárias pegadas...
Chegou a hora de uivar ao que virá... arrebentando o fole dos meus pulmões...
O sol líquido que se espalha por mis esperanças esparramadas na relva que se revela invertebrada...
De sentir o vento limpo do desbravamento, com cheiro de selva... romper as carnes opulentas, ungir o corpo com óleos frios, besuntar de azeite os pelos crespos com nossa argila virgem...
Levantar vôo com asas Délticas, élficas... Gríficas...
Erguer a mirada... sem cálculo, perceber os passos sem críticas...
Palmo a palmo te apaziguar os sonhos... o olhar manso como a curva gorda do rio... e firme como figueira antiga...
Chegou a hora da desancora dos barcos... romper a noite que já acaba...
Respirar profundo, explodindo os peitos, sentir as bombas da primavera em cada explosão de pólen que estala.
Te olho nos olhos... converso com a íris cicatrizada... e salto num arco de cores... voltando daquele exílio forçoso!
Chegou a hora da explosão túrgida dos nervos... da tensão drástica dos músculos...
Chegou a hora dos músicos dançarem na festa maiúscula... Que as flautas fimbrias se afinem no firmamento...
Chegou a hora de te pegar a mão e beijar os lábios...
Chegou a hora de encostar no ombro aquele choro de despedida... de até logo!
Chegou a hora de pousar a casa... esquadrinhar o quarto, modelar tijolos... empilhar ladrilhos...
Semeei em muitos lugares, porque não sei onde renascerei um dia!
Os tentáculos flácidos contém já a lignina densa...
O que era ferro ao centro, fundido em a.ácido! Agora dança ao centro aos pares com Magnésio!
Enraizando o sangue animal, numa cortiça eterna... como a planta que cobiça à pedra...
Como o plasma que beija à matéria...
Chegou a hora de aprofundar as raízes velhas... nessa terra encharcada de sêmen...
Construir o ninho, esquentar a água... trazer-te um banho para curar-te as chagas...
Dar de comer à cria dos cães magros, dar com o tempo parado numa esquina, conversando com os velhos homens sábios...
E de mãos dadas pelos pátios... fazer-te um convite inesperado...
Bailas comigo pela eternidade?

1 de outubro de 2009


Eu no Rio de Janeiro...

Em uma de suas milhões de cartas e conversas com minha querida, que está longe e que estou longe...

Mas tentando manter o sorriso e a serenidade para que um dia nos reencontremos mais maduros e mais preparados para caminharmos de novo, lado a lado... de mãos dadas, hermanados...

Um dia...