12 de dezembro de 2011

Dr. Jekyll: Pb > Au


Persiste o Etrusco no sangue bruto,
Busca a resposta encravada em dupla
Hélice. Bruxuleia alquímica lanterna,
A mirada assusta se o estribo vibra ao sinal que escuta:
“- Bebe do cálice!”

A epiderme grita ao escorrer nas coxas
A matéria amorfa que precede a vida
Nos belisca a garra da tragédia humana,
Odalisca afrouxa o quadril que dança!
“- Suga da música!”

Castiga a torre, cede o castelo, o desejo clama!
Quando o passo cansa e o olhar embaça,
Força-te ao braço que sustenta o barco! Surgem escamas...
Incendeia a flecha que te alveja o corpo!
“- Deja la máscara!”

O uivar lupino vem oportuno acender a chama.
Balançando o berço, o acalentar tranqüilo
que amamenta Roma... Meu cavalo escuma
e pisoteia o pasto. Rodar a fortuna com a mesma pata! Carmina Burana!
“- Dispa da túnica!”

O tambor palpita ao sopé do abismo, aborígenes
Caçam marsupiais dos istmos. Unem penínsulas
Ao continente. Usurpa ao urso ou ao lagarto
A língua bífida! Descer degraus na escala ígnea...
“- Cava um buraco!”

Beija ao inseto, maneja a célula, retoma o mapa
Do elemento químico, controla o átomo, fira a hemácia
Mói a molécula, maquia a face, modela a massa,
Retorne a sala do hotel. Tranqüilo... Ela não viu!  
“- Abra um sorriso! Dr. Jekyll

9 de dezembro de 2011

Cavaleiro de Copas

Tiraste de Perseu o seu escudo
Do reflexo da medusa não tens medo
A coragem da inocência é o remédio
Contra a sombra abstrata do absurdo

Vieste em vestido de festa ao rochedo
Teu colírio jogas fora, não precisa.
Precipício abre a boca implorando
Sacrifícios seculares, tu cozinhas um coelho!

A leveza de seus passos é levedo
De cerveja aos monogástricos, brilha os pelos...
São fantásticos os fogos de artifícios

Que explodem quando passas em meu peito
A coragem que incitas quando brincas
Faz mais forte o pai que busca por emprego!

É minha filha a heroína do enredo!

Belo Monte

Tenho um vulcão de lava fervente
Comprimido num tubo de pasta de dente
É meu peito explosivo e palpitante
Picareta marretando a dinamite

Furacão que rodopia a cabeleira
Borboleta na neblina, Cachoeira
Represada, Belo Monte assassina
Tenho a fúria mal dormida e mal domada

Natureza dominada atrás da roupa
Confortável no inferno faço a barba
Trago poucos impropérios além da raiva

A beleza aprisionada na falésia
O pavio encurtado à navalha
A falácia alivia, mas não salva!


1 de dezembro de 2011

Gilliat e Deruchete


Naufrágios sao frágeis para seus braços,
Trabalha na gávea, na proa, no mastro, vai farto!
Confia Gilliat em seu esforço, assusta-se e dança!
Engole a onda, a longitude, lasca de lenha balança e
Durande, vapor velho, encalha um parto no vácuo...

Eterna ventosa lambe a chaga, labuta infinita
Chacoalha o oceano o casco da pança, gaivota...
A âncora engasga, em asma o fole, trapaça gravita...
Devaneia Deruchete no balanço, serenata na infância...
Persista!

Bonnie Dundee é conforto ao desespero. Sua herança
tem os nervos como cego nevoeiro, beija e cansa
Vai marinho, cavalgar a tempestade... toma as rédeas!

O herói deixou um marco em meu peito, como nódoa
Latejando de profícua lealdade ao que planeja, o marujo que gargalha...
Que suspeito ser o mesmo que trabalha... ou quem ara

Quem areja com esforço a sutileza desta terra, a natureza
Não aceita que marés devorem braços que operam...
Nada, nada, bate as asas, já sangraste em demasia pela praia
O castelo de areia cede ao vento mais eterno!


7 de outubro de 2011

ENTROPIA MONETÁRIA


Se a música me embala e a cantiga vem, me nina!
Se o cheiro do incenso me domina e a mágica me cala.
Assustado pelo álcool que embriaga, absinto em meu soluço!
É a droga que me fere e me fareja, quase minto!

Sabem sim, dessas mensagens tão sublimes
Que estudam-me os detalhes dos sentidos
Embaralham meu desejo a um abismo,
Gritam: - Salte! Por favor, não me maltrate!

Se a energia quando eu compro é cara, e
Quando vendo se traduz em meu salário.
Entropia monetária? Quem se apropria?

Obedeço a um principio claro!
Trabalho!

Minha força mede em joules
Perde-se em física jornada,
Contam horas de entrega e me pedem
Mais um samba, mais um trago

Mais um crime é cometido contra o caráter
Em minha tábua entalham leis com a chibata
Guardas me calam... Dai-me a cachaça!

Se o sino da igreja marca as horas nos badalos
Engana o padre ou o bispo, quando falo de pecados
Sendo a bíblia um engodo genocida, então me calo!

A fábrica marca meu tempo num apito
Meu patrão é um monarca, devo-lhe a vida!

Se as bandeiras da torcida se maltratam
E os dois times em verdade, são o mesmo!
Quem desejo ver metendo a mão na taça?

Na TV passa um programa apelativo
E como obvia reação eu me masturbo.
Dai-me mais dessa piada, somos o circo!
Cerquem soldados! Metam na jaula!

Meus instintos se enroscam nas esquinas
E como peixes, mordem iscas, eles me fisgam
E me desvio de mim mesmo, e me procuro!
Por mais que pense, quase macaco. Me domesticam!

Se os estandartes de minha escola descolorem
Ao perceber meu carnaval nascer do crime
Em quem confio?

Tudo que passa, cobre um pouco meu domínio!
Em meu pulso um relógio me retarda!
Raízes velhas, quase invisíveis são violadas...
Como faço? Como entendo tudo isso?

E o poema, como sai dessas amarras?
Sequestrado, preso em algemas! Arrebentado!
Sempre caio em armadilhas! Elas são lindas!

E a alma? Que resgate é exigido!
Como trago? Se a fumaça fecha os olhos de meus filhos!
Como toco aquela pérola escondida, no infinito?

Um represa se constrói em nosso rio!
Quase incêndio na floresta do instinto!

Se o universo trama e conspira...
E borboletas batem asas na Austrália
O que tenho eu, a ver com tudo isso!?
Se na Grécia, tem um povo que batalha
Tocam-me pedras Palestinas, vindas das fundas!

Se os búzios se contorcem no balaio e contradizem
O que sinto aqui no peito, bem lá no fundo...
E me revolto! Meio confuso!

Essas idéias vêm assim tão primitivas
E me assaltam bem de leve, como libélulas!
Me incomoda uma pontada dentro da carne
Vem perfurando minhas camadas, como um dardo
Em meu alvo... Em minhas células! Como um berne!

Sem mais silencio, nem se camufla... Me desafia!
Tal qual mística esfinge...
Dor de cabeça!

E o perfume da senzala regozija em minha alma e nas narinas!
E pela noite tem um cavalo se relinchando, solto no pasto!
Do oceano vem uma brisa... A tempestade!
Algo me diz que liberdade é mais que isso!

Mas o que faço?

Se a musica me embala... O álcool me embriaga... O meu time mete a mão na taça... Minha escola vai para o samba desinibida... Dança a mulata, decotes fartos... E meu sorriso faz-se sem pressa... Vai meu poema, cambaleado pela cachaça!

MORO NESSA CASA VAZIA

Eu moro aqui nessa casa
Vazia por certo, deserta!
Tenho água encanada,
Luz elétrica, comida farta
Isso me basta!

Tenho empregada doméstica
Que vêm todas as quartas
Livros que me distraem...
Samambaia plástica...
Faço ginástica!

Tenho bons filmes na tela

Vela para imprevistos,
Tenho carteira que como lábios
Pede amor por tele sexo!
Conto anedotas...

Aburguesado vou à balada
Derramo vodka
Com energéticos,
Sou mesmo foda e
Tomo remédios...

Minha família é um fantasma
Escuto trance ou tecno...
Me manifesto pela internet
Adoto uma árvore...
Sou agnóstico!

O operário da obra é brega... e fede!
Imprestáveis os que fazem greve!
Tenho nojo de quem sua, toda plebe!
Malditos sem-terra...

Eu xingo toda a gentalha!
Estaciono meu carro,
Faço plano de saúde...
Aciono o alarme...

Eu moro aqui nessa casa, vazia por certo!
Como meu cérebro!

25 de maio de 2011

Siesta - Angel Parra

Eu que conheço seu corpo
Melhor que ninguem na vida
Descubro por baixo do braço
Fragrâncias doces que incitam
Que feche a persiana
E acaricie a colina
Que desperta meus desejos
na siesta de nossa ilha.
E nossos corpos se afundam,
Desnudos numa sombrinha.
Cai a blusa do ombro,
“Dispa-me tudo”, dizias,
Embriagados de ganas,
Ocorrem todos os dias,
Respirar dessa maneira
Os dois ventres que palpitam
Ambos buscando seu centro.
Ante-sala de carícias.
E de novo surpreender-se
Do mundo das delícias.
Em teus braços e nos meus
Pérolas de paixão transitam,
O vaivém das cadeiras,
Um coração que se agita,
Sobe e desce a maré,
Volta mil vezes, respira,
Sal e iodo entre suas pernas,
Alimenta e debilita.
E estalo como onda
Em tua caverna bendita.
Depois de havermos amado
Sem restrição nem mentiras,
Me inclino a beber a água,
Nossos joelhos vacilam,
Voltar devagar ao mundo
Com a pupila distante,
Cansaço de navegantes
Que aportaram na praia,
Cruzando os sete amores
Felizes pela batalha.


Original em Espanhol:
Yo que conozco tu cuerpo
mejor que nadie en la vida
descubro bajo tu brazo
fragancias dulces que incitan
a que cierre las persianas
y acaricie tu colina
que despierta mis deseos
en la siesta de la isla.
Y nuestros cuerpos se hundan,
desnudos en la sombrita.
Cae la blusa de lo alto,
“quítame todo”, decías,
como borrachos de ganas,
ocurre todos los días,
respirar de esta manera
los dos vientres que palpitan
ambos buscando su centro,
antesala de caricias.
Y de nuevo sorprenderse
del mundo de las delicias.
En tus brazos y los míos
perlas de pasión transitan,
el vaivén de las caderas,
un corazón que se agita,
sube y baja la marea,
vuelve mil veces, respira,
sal y yodo entre tus piernas,
alimenta y debilita.
Y estallo como una ola
en tu caleta bendita.
Después de habernos amado
sin restricción ni mentiras,
me inclino a beber el agua,
nuestras rodillas vacilan,
volver de a poquito al mundo
con la pupila lejana,
cansancios de navegantes
que arribaron a la playa,
cruzando los siete amores,
felices de la batalla.

28 de abril de 2011

Canção Óbvia

 
(Paulo Freire)
Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,:
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso, esperar, na forma em que esperas,
porquê esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.

Mamutes e Amores



Escrevia eu de Mamutes, concentrado em minha tese!
Lamparina acesa em meu quarto, bem cansado eu forçava um ensaio!
Mamutes, paquidermes? Quase isso! Que abuso!
Enfim, arrombando as paredes, aparece-me o tipo. Que raro!
Era ele, onipresente derrubando a casa!
Retorcendo seu marfim em cada página...

Bom... Impossível seguir meu estudo!
Ali estava, presente! Abusado! 
Escrever sobre o Mamute não podia...
Me pisava!
...
Escrevia eu de Amores, concentrado em minha tese...
Que assunto tão delicado!
Tranquei a porta assustado!

27 de abril de 2011

A Menina na Caverna



Entrei naquela caverna, ali uma menina
Chorava escondida, desesperada dizia:
- Meu tempo vai acabando, estou fria!
Desejei poupar-lhe de sua notícia-sina!

Voraz devorava o mármore! Seus caninos
e a gengiva em sangue mastigavam o vício.
Meu coração ouvia e badalava em sinos...
Búfalos em marcha sobre a derme de silício.

Deitei ali ao lado, uma cantiga fez a voz
Balançar em minhas cordas, que sem nós
Serviu como carinho, embalada ela dormiu!

Tenho pouco, quase nada! Mãos vazias, trago
Assim uma palavra, uma frase ou um fuzil
Meu abraço é abrigo a um amigo! Um afago!

Ou um tiro...
Meu refúgio é como exílio de naufrágios!
Ou um lírio!

26 de abril de 2011

O Eco, a Sombra e as Estrelas


Pouco tempo resta pra decidir a rota: - Capitão!!
Gritam: - Faz chorar a pedra! Essa é a tarefa!
Ampulheta que fratura a hora e dilacera a pressa!
Eis minh’obra dedicada à idade e a ilusão!

Vendo a memória, ninguém se interessa!
A cidade que ergo em meu verbo! Dédalo
Rasgando cada projeto e um beijo do objeto!
Resta uma dança para a despedida. Valso!

O anel ao dedo médio da menina mais sincera!
A escala domestica a fera, e meu lenço se encharca
de lembrança... Iço as velas, mordo as rédeas!

Encilharam meu cavalo, e meu nome vai bordado
Na bandeira hasteada, e meu eco acompanha o vento
Dorme a sombra, o instinto decidido berra: - Fica!

23 de abril de 2011

Tatuagem de Família




É claro que sabemos a origem, sempre sabemos! Mas a ignoramos para manter o ar de simplicidade e mistério! 

Essa é a tatuagem de minha família, nômade, bruxa, cigana, peregrina, maruja, viajante, artista, mambembe, faminta, distante, que brilha ali bem perto, num farol ao horizonte!

Ao fundo no maior círculo, esta o “C” de Campello, em forma de Lua, que nos rege!

Atravessando o “C”, temos duas ondas, uma côncava, outra convexa, que atravessa nosso alfabeto! Sempre nas marés que sobem e descem! Assim navegamos!

Nas ondas, surge uma ilha pequena, terra firme da família, da memória, segurança, porto de lembrança e saudade, onde nos socorremos quando perdidos nesse mundo!

Ao alto da Ilha, um ponto de referência, um farol que brilha! Que é como estrela ou um uivo para a matilha!

Um ponto que nos unifica, que relembra dos valores, dos princípios, das verdades primeiras... Do trabalho e sacrifício! Sim! Há que remar para chegar ao outro lado do oceano e conhecer as constelações!

Tatuada ao tornozelo esquerdo do lado de dentro!

Tornozelo por ser a parte que se dobra, articula, perto do ponto sensível de Aquiles, adaptável e frágil, que nos faz caminhar eternos, pelos caminhos do mundo!

Esquerdo por ser o lado do coração e do povo, associado à justiça!

Do lado de dentro para estar protegido em nosso interior, na caverna segura de nosso instinto!


16 de abril de 2011

FANTASIA MIGRANTE


Ponganle ojos cumpadres!
Diz ser corsário! Não creio...
Tem ar de delírio e amores
Nas margens do devaneio.

Tomem cuidado! É certo
Sua alma de profeta e o cajado
Vai rijo à mão esquerda... Profano
Diz ser cigano e fuma cigarro

Como um poeta, diz que vicia
Sua palavra imita a magia,
Grafia homeopática. Vigia!
E lê nos astros nosso destino!

Diz ter origem no Ganges
Que vem pra lá do Himalaia...
Cuidado! Fez um castelo do verbo
De verso fez a Cidadela...

Como um inseto, transmuta
E nutre-se como uma epífita
Crisálida sem casulo, caverna!
O fato concreto revela: é desempregado e migra!

15 de abril de 2011

Tropa serena




Bem manso, pedi abrigo
Ao irmão mais velho
Ele disse: - Bem vindo!
Que valha a vela!

São dois agora
Que de mãos dadas
Vão pela estrada
Meu assovio segue

Tenho um cachorro
Que sem coleira
Vai pelo pasto
Seguindo estrelas

Eu quero água
E faço trégua
Trago um canário
de asas contrárias

Somos os quatro:
Alma, Matéria, Instinto e Tempo!
Sobre essa terra, que é o cenário!

Canção em Espiral



E esse braseiro no meu peito mãe!?
Como é que apago?
E essa fornalha em minha boca mãe!?
Como é que calo!?

Essa ferida de amores mãe, será que cura!?
Esse sendero no deserto, Como atravesso!?

E essa vida de cigano pai!?
Como te vejo!?
E a memória do passado pai!?
Como desejo!?

E o que faço dessa pedra, amor!?
Em meu sapato!?
Como é que domo a besta-fera, amor!?
Em meu encalço!?

E se eu cair antes do tempo mãe!?
Como renasço!?
Diz-me qual berço traz de novo
O seu abraço!?

- É só o tempo! Velho filho!
- E o esforço de seus dois braços e o trabalho.
A sua luta eu abençôo, e reconheço seu recomeço...

Salva de palmas!

Faz dessas dúvidas, poemas, filho!
Vai dar a volta pelo mundo, anda!
Que nessa vida não tem trilho, voa!
Manda um postal da Patagônia, homem!

Vai meu querido, eu li num livro
O seu futuro será brilhante!!
Vai pela sombra e com cuidado!
Vai meu amado, de agasalho...

Li num diário bem antigo...
Que tens amigos por toda parte!
Que prosa boa, amor, eu digo!...
Eu agradeço em meu silencio: Muito obrigado!!

Que já confio novamente em minha historia,
Que tem tragédias como todas! Esse é o mistério:
Fazer do medo, ou da queda, ou do cansaço,
Que seja assim dança mais leve, um novo passo!

Cabeça erguida, essa é a marcha! Sossegue!

13 de abril de 2011

Desculpai-me insetos!


Já não há flores nos campos
Tampouco nas floriculturas
Nos jardins já não há pólen
Torturam-se as abelhas. Coitadas!

Desculpem se tomo de assalto
Todo perfume que posso e carrego
Comigo as cores mais belas!
A primavera em meu quarto!

É meu presente à donzela
Como frutos de meu trabalho
Eu suo e gargalho. É festa!

Desculpai-me insetos! Mas juro
Que lhes devolvo o néctar em troca
Desse poema, que dou para ela!

Dedicado com carinho à Francine Niesing

9 de abril de 2011

Mom made a doll



My mom made a doll

Mom went to the kitchen
I knew they're would be magic

_ Ah! Still amazes me!

With her hands full of clay
Rises another doll
Even more beautiful than the first

As always...

In her temple, clumsy between wires
She is a happy bunny, dancing within the thorns
Having fun in the haystack and smoke
Tangled up in hampers and baskets of all kinds
Through her bangs, she smiles...

Mom goes out
Excited, always brings new ideas
Inspired by owls and stars

Mom comes back from the park
Make-up of leaves and soot
With paper, glue, and a crumbled heart
She attaches a frame to the hamper
And adds more filling...

One arm falls off, a twisted neck in the morning
Another endless night
A new clay to be tried out

Mom goes to a dream
And from there, registers different recipes

I am her amazed son
Observing her work being created

Mom makes medicine
That keeps me happy all day long
It also heals her soul

It already has the exact texture of rough skin
That she wanted for her piece

Now she prepares the colour, to paint that someone

My mom makes a doll
For her son's heart

So delicated, she celebrates, proud and satisfied
Brings the whole party into my chest

Then she goes away... To the balcony, forever

Resting is the doll from the recipe
Like a muse floating over my dreams
Like mom going back to the kitchen
And fairies and witches watching over their sons
Whispering at the right moment
Swerving them from traps

My mom made a doll...
Sewed our family's soul
That dresses me with instinct and affection
And guides me forever in my path
To be a man filled with tenderness
Strolling through the adventures of life...

I'll forever thank you "Madrecita"!

Like "Pinocchio" I also...
Came to life and ran away from my "Gepetto"!

One day I'll be back...

One day I'll be back...

I don't think we ever left!

(Poem written without correction of words, just the way it is... The same way mom makes her dolls... Poem dedicated to my mom's hands, that will take care of me forever!)

Thank you my beautiful mom!




Tradução: Alice Campello

Adrift





Loosen up the rope just a little,
And trust the horse with my path.

The mist that surrounds me became permanent
My legs are relaxed and smoothly go
Through the grass and through instinct, there is no mystery!

See the god’s playing cards
And the gypsies, don’t show me the signs
And don’t tell me that the stars in their cycles
Are prophesying...

Loosen up the sail and slowly
I will aim through the hatch realizing
Which ocean sailed me that night
And where it have anchored my ship

Rediscovering the beach... The mermaids
And the forests will bring back
The desert that keeps my destine

I will let go the rope now
The currents will define my challenge!
I don’t look for any answer
I have soul and my character is who will draw my future!

Marcelo Campello

Tradução: Alice Campello

The poem's not love


I don’t love you, I know
Too bad you don’t believe it
And insists in something that isn’t there
It’s a trap. Beware!

I don’t love or fall in love
I can still approach you. Like a wolf without his pack
It’s just about scent and pheromone
This way you won’t suffer
The same way I won’t suffer
Control your demons
Castrate the evil

It’s obvious that I don’t love you
Desires are for the meat
Men’s necessity
For being so delicate I respect
The rules of flirting
Flowers on my bed and then I sing

Definitely I'll forget about you
Just like a wallet on the table
And because I’m a church lady
I won’t love you just because you are a bourgeois

When falling asleep
After orgasms and joy
Different dreams stumble by
And confuse my thoughts

I don’t love you because it’s too much
To love a fatigued man
You can’t buy it
Not even with jars of beer
Certainly I don’t love
Done

I don’t love you because I am brief
And you can take my feelings
As a lifejacket when you drown
Like wind
Like tobacco for cigars
Like fezzes
Just how the capitalists do
You don’t have my affection
Just my desire

I’m firm
I aim my goals
I control the bleeding animal

I don’t love you. I protect myself
Inside the shell without the pearl
Inside the snail
Under blankets and empty beds

I don’t love you because I don’t want to
Have on my side such torture
Forever and nocturne

I don’t love you and it’s decided
Abortion of the dream, ejected
I reject the project
These are my rights

Destroying the sand castle
I’m clear
So I take back this poem
Put my clothes on
It’s late. I better go home

Scream loudly on the street:
-COWARD!

Who cares? It’s late anyways…

Marcelo Campello

Tradução: Alice Campello

8 de abril de 2011

CANÇÃO MENINA


Homenagem que recebi hoje de manhã, de meu grande camarada Leandro Haua, em resposta ao poema que fiz para ele a algum tempo... 
Obrigado meu irmão castigado e querido!


CANÇÃO MENINA

Vejo as palavras que alegram o papel
Desenhando seu espírito. Enorme.
A cada verso entrego todos os sentidos,
E sinto em mim, seu coração.

Siga leve andorinha,
Sozinha em seu verão.
Descanse seu voo em ombro amigo
Beba muito líquido,
Não se alimente só de pão.
Aceite o convite de cada ninho,
Sem moralismo o verbo se faz canção.

Suas estradas são mais que caminhos
São veias abertas, sorrindo.
As veias de um errante coração.
Voe alto, veja de cima,
Seu coração é o de uma menina
Em eterna primeira paixão.

Turbulências e lírios não são destinos,
Mas caprichos das aventuras,
Os dois elementos da cor púrpura - histórica e atemporal.
Do horizonte que lhe é virgem.

Do chão de batalha lhe escrevo essa carta
Em quanto ouço sua canção soprada em meu ouvido:

O ALBERGUE ANARQUISTA 

7 de abril de 2011

Algum abandono previsível!



Tuaregs, beduínos, peregrinos
possuem apenas o que carregam.
Desejam as rotas libertas. Dezenas!
Defendem rebanhos e os destinos.

Ciganos não fazem guerras,
são clandestinos.
Não defendem territórios ou bandeiras!
Pelo contrário... São perseguidos.
Fronteiras são como muralhas
Que servem aos sedentários
ou ao império!

Os nômades, os forasteiros,
creio não haver entre eles
Castelos erguidos na areia,
Apenas passam, não ficam...

Artistas de circo gargalham
Dos homens que lavram a terra
Que para eles, são como palhaços!
 Marx diria: são proprietários
da força de trabalho que perdem
e padecem em seus ofícios!
Depositam trabalho sobre a matéria...

Todos que passam. Inclusive as gaivotas
que migram...
Todos que não erguem na terra
algum edifício!
Todos, eu sei, são mal vistos
Pelos que fincam raízes!

E bate o vento... e vem o inverno
Cigarras não forjam abrigos!
Eu vou com elas... Ninguém vai comigo!
Vantagem? Não sei... Eu sou leve
e sem refúgio...

Em meu sangue há muitas origens!
E vem a chuva molhando o poema...
É mais uma obra que abandono... Que pena!
Mas sigo sem pressa e despossuído,

Na tempestade que se aproxima!

Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina



A tradução que minha irmã fez do poema presente para elas... Vejam que lindeza e harmonia da família! Fico honrado e emotivo com as retribuições que recebo de carinho!
Obrigado Alice, que tudo ai no Canadá esteja no rumo de seus sonhos! Acho que em agosto eu vou mesmo hein! Me esperem! Beijos!



Look how beautiful! There they are, exactly…
The witches, young gypsies that dance!
They are my friends and all men too
They have always loved me!

Sweet flying, they drift unanchored!
Campello’s women, for centuries accumulated
From there, the mists of A...valon
Whispered in my ears: Love, be careful!

And warned me from the start, from my crib to the alphabet.
And later on and out of my cocoon
A young man, running on the roads
They sung for my soul: “Go for the shade, beloved”!

And blessed me Forever moths, the fairies!
From their barracks they sent me an angel
For every time I bleed And they hold me in their arms.
They guide me without saying a word
To places that have no footprints

And when the blaze on the chest becomes so strong,
Burning the savanna. A balloon rose to the sky
When they saw it, there I was, fallen, on the ground!
Pulse ripped! They raised my eyes over the mountains
And protected me from the silhouettes

I call them my friends
They are the three Maries, sisters
Their names is marked
On the bottom of my hourglass

Garnish Alice on my eyelid, the gold
Clarissa in my left shoulder, the incense
And Juliana in my ankle, the myrrh

Marcelo Campello

3 de abril de 2011

Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina



Mirem que belas! São elas exatamente!
As bruxas, as jovens ciganas, que bailam!
São minhas amigas e dos homens
As mesmas que sempre me amaram!

Adocicadas que voam, vagueiam desancoradas!
As da família Campello, por séculos acumuladas.
De lá, das Brumas de Avallon
Disseram em meu ouvido: Querido, cuidado!
E me alertaram do berço... ao abecedário.

E quando na adolescência, me tocam desencasulado
Um jovem, fugindo na estrada...
Cantaram por minha alma: Vá pela sombra, amado!
Assim, fui abençoado.

As mariposas de sempre, as fadas!  
De suas casernas enviam-me um anjo
A cada momento que sangro!
E me seguram no braço, me guiam. Caladas!
Por onde não há pegadas...

E quando o braseiro no peito,
Fez-se assim, agigantado
Queimando a caatinga. Subiu um balão ao céu
Quando viram, ali eu estava! Caído!
De pulso rasgado! Ergueram meus olhos
por sobre as muralhas!
Protegem-me das silhuetas

A essas mulheres, lhes chamo Amigas,
São elas, as três Marias Hermanas!
Seus nomes sacralizados
Na base de minha ampulheta!

Cravejo Alice na pálpebra! O ouro
Clarissa no ombro esquerdo! O incenso
Tatuo Jocasta, no tornozelo! A Mirra

PS: Ela vai rir do Jocasta, eu sei! Mas não cabia Juliana! Beijos minhas irmãs tão lindas e longe! Seu irmão já não é um guerrilheiro, mas segue na busca de alguma justiça e carinho! E sente saudades gigantes...

2 de abril de 2011

الافراج عن البيانات - عازار


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Avisai-o! Ele ainda não sabe,
Mas cremos que já suspeita!
A obra está quase completa,
Mas vejam! Falta um acorde.
Percebam, é imperfeita!

O barro ainda sem molde,
A peça vai sem recheio...
Sussurrem seus devaneios,
Conduzam seus pesadelos!
Toquem o lóbulo esquerdo
Com a ponta dos dedos,
Mas não o acordem, é cedo!

Divirtam-se antes da queda
Icem as velas, provoquem incêndios
Lambam-lhe as labaredas
A língua e os lábios na terra,
O magma pelas veredas,
Piruetas sobre o abismo!
Os olhos repletos de areia
e fumaça. Quem sabe
de seu Destino? Em transe
balança na prancha o segredo!

Cimitarras na gávea,
Apontam para as pedreiras!

Cansados, eu sei... ele já deita
No sonho, avista o rochedo
E as ondas eternas
Caminha por sobre as pedras
Como cegos e profetas, tateia!
O barco nunca naufraga
Se desafias os deuses

Não meçam esforços
Falta um capítulo!
E nada sabe o caminho
O louco viola o medo!
A obra da vida inteira
Avisem-no, falta um roteiro!
Falta-lhe um mapa!
Um símbolo!

Simbad sugere sigilo!
Ele ainda não sabe
Que desde o início
em hipnose se dobra
Na rota do precipício!

Apenas lhe sigam,
Espíritos o protejam!
Ele vai se jogar...

Az-zaHar!
Assim aprende a voar!


AZAR - Nas línguas neolatinas (aquelas derivadas, como o português, do latim), esta palavra tem duas acepções de emprego, significando ela, seja “desgraça”, “infortúnio” ou “fatalidade”, seja “casualidade”, “acaso”. A origem do vocábulo, porém, é árabe - sendo a forma portuguesa uma adaptação fonética da palavra az-zaHar. Na língua árabe, az-zaHar é o nome que se dá ao “dado” - o pequeno cubo numerado que se emprega nos jogos. Neste exemplo, observa-se que nas línguas neolatinas a forma fonética do árabe se conserva, e que o sentido semântico primário, referente ao dado, se perde - ou, como também se pode argumentar, que seu sentido se mantém, mas deslocado, visto que é comum o jogo de dados - que se baseia em fenômenos casuais - redundar, para o perdedor, em infortúnio (latim infortunium, quer dizer, “ausência de [bom] destino”) ou desgraça (do latim disgratia, “má retribuição [dos deuses]”).

1 de abril de 2011

Então é assim que os poetas deliram?


Vou rasgar o sol com meus braços
E dali, puxar pela fenda dos elementos
Parindo do hélio, inteiro um planeta
Ou do hidrogênio

Ah, que hilário!!! Então é assim que os poetas deliram?

Vou recortar minha retina no gelo...
Congelar a pupila na imagem maravilhosa
Que são seu sustento, ou suas pernas
Pilastras romanas enrubescidas...
Colunas gregas, grinaldas agradecidas...

E na descida do Olimpo, salpicar de oliva
Sua pele, meu labirinto...

Ah, então descobri como fazem esses poetas!!
Tão divertido!

Mas que feio, meninos!!! Não exagerem!

Elas são lindas, eu sei, são nossas mulheres!
Mas elas percebem os superlativos, recuem!

Também queria ser desse tipo
de atleta gramático... Conquistar mil olhares!

Huumm, que delicia...

Mas vejam meus membros, não sou um atleta
Olímpico!

Imaginem! Quebrar tantos recordes!
Nunca... Bem que eu queria! Mas não me esforço!
Nem meu biótipo permite!

Ah, mas como desejaria estar ali pelo Nobel da literatura
Da química ou da medicina!
Mas meu raciocínio tortura e se inclina
Por um caminho mais largo, quem sabe, uma avenida!

Saramago que me abençoe!

Definitivamente, não faço parte do círculo!

E as musas, de mim gargalham!
E me divirto! Esse mundo é mesmo engraçado!
Não sirvo para soldado!

Sei que não danço em baladas...
Nem tremo de raiva com injustiças!

Mas para aquela ali meio escondida
Aquela, a que escolhi... meio desajeitada!
Ali na casinha de palha... ela descansa...

E o poema que trago...
Quase cerveja de trigo...
O mais bonito, é sempre da mesma matéria
Sussurradíssima ao pé do ouvido!
(recordem dos superlativos)
Compõe-se de uma só frase!
Ecoada e divina,
Leva-nos a loucura...
Basta: Eu te amo!
Ali eu deliro... e ela se vira... cai a noite
Me beija...
e ofegantes nos abraçamos!

Eu te amo mesmo... que coisa esquisita!!

Deixa escorrer a água querido!


Onde esta a menina
que escrevia de lágrimas?
Se bem me lembro
Era divino o poema!
Dizia: lágrimas não choradas
Bem pronto, correm pro outro lado...
Ou seja... pra dentro da alma...

Enraizavam com força, se enterravam
no fundo de um poço
onde um caroço crescia...
lento e desesperado!
Os membros se retorciam

As lágrimas formavam um lago.
Profundo o desgosto
De ali, ser assim afogado!

Onde esta a menina?
Que recitou tais palavras?
Coitada! Não sei seu destino...
Imagino que no abismo do lago,
Ela repouse bem breve
Em suas margens,
dali entoando a cantiga
Que diz bem suave:

Deixa escorrer a água querido!
Para o outro lado...
Para o outro lado, menino!
Para não inundar sua alma
Nessa lagoa de mágoa...
Oceano salgado e solitário!
Cuidado!

14 de março de 2011

O labirinto de calcário



Ela enverga o corpo assim, como num arco
De cordas tesas da mirada no objeto
Arrebentadas quase inteiras e por completo
Sua flecha ela dispara, sendo certeira

A coluna arrepia como uma harpa
Nos arames ela vibra em harmonia
E nos ossos da bacia se percebe
O labirinto de calcário como num mapa

Ela navega como um barco no oceano
E nas marés vai descobrindo os segredos
Das cavernas submersas e dos rochedos
E das cantigas mais antigas do piano...

Numa nau ela passeia pela praia e me atravessa
Na caravela é a carranca da sereia, às avessas
Traz boa sorte, e meu túmulo é da matéria da areia, de silício
Dos mais finos que o vento sempre leva, e recomeço!

Iemanjá vai invejando-lhe a beleza, mas joga flores
Os orixás a jogar búzios na certeza
Que essa mulher, sendo a própria natureza
Possui marinho um reino, o domínio das espécies...
E meu carinho...

Minha Pátria vai inteira para a festa...
Tanta delícia a recobrir meus devaneios...
Um vento fraco, como brisa bem de leve
Traz o perfume de su’alma em meu sorriso

Ela é sereia, a retornar de Atlântida perdida!
Venha para a terra, ergue outro reino no terreiro!
Com suas pernas verdadeiras, não das escamas fictícias!
Ela é Patrícia... minha pátria
feiticeira... minha carícia.

Volta para a cama!

13 de março de 2011

Eu carrego em meu peito um elefante




Eu carrego em meus braços a criança
Nos dois olhos, vem um mar de desespero
A esperança retorcida do desejo
Sente fome. Não de arte (ainda), de comida mesmo,
desde a infância um cão lhe rouba a carne.

Vai assim a esperança ao enterro.
Vai de terno bem puído e resumida
Sem descanso
Eu carrego nos sapatos escondida
a alavanca, o gatilho, o disparo, o despreparo

Eu carrego em meu peito um elefante
Que esmaga o homem jovem e a debutante
Faz as malas toda vez que bate o vento

No moinho põe a alma descontente
Faz um frio bem lá dentro, tão constante
Como as ondas ou as pedras de diamante
Faz um rio de lamentos, se derrama
lamacento!

E meu lenço de poeta,
encharcado volta já para meu bolso

Eu me deito, amanha é diferente!

À DERIVA




Vou soltar um pouco as rédeas,
Confiar a meu cavalo, meu caminho.

É eterna a nebllina que me envolve
Minhas pernas sao tranquilas e deslizam
Pela relva e pelo instinto, sem mistério!

Ver que os deuses jogam cartas
E os ciganos, dos sinais não me revelem
nem me avisem o que os astros em seus ciclos,
profetizam...

Afrouxar maneiro as velas e de leve
Vou mirar pela escotilha percebendo
Qual o mar me navegou durante a noite
e onde ancora já bem tarde, meu navio

Descobrir de novo a praia... e as sereias
Que florestas me devolvem!
Que deserto se reserva a meu destino!

Vou soltar assim, de leve, as rédeas...
A maré vai definir meu desafio!
E respostas não procuro. Tenho alma e
O caráter é quem molda meu futuro!

Aquieta o Realejo e Seu Macaco!


Vou a praça meu amigos! Não me calem!
Desta vez é diferente. Vou gritar a todo povo
Com vontade. Que sou jovem e deliro com poemas!
Sou bonito bem lá dentro, não perfeito
Mas amável e contente Dom Quixote!

Vou a praça meus amigos. Não duvidem!
Acordar os passarinhos logo cedo, com migalhas
E cantigas e assovios, vou ali tocar o sino da capela
No coreto encostar minhas costelas, vou deitar
E decifrar mais um soneto,
ou quem sabe, serenata para as estrelas.

Vou a praça meus amigos. Convocado pelos anjos,
Não gargalhem! Mas é claro que retumba em meu ouvido
Uma trombeta, e me chama pelo nome como bomba
Estalando na usina japonesa. Não escutam o universo?
Bueno, eu escuto e me despeço. Me convocam!

Eu alisto as legiões de bons profetas
Vou de fato, de mãos dadas à paixão Roberspiana!
Laços feitos com a jovem Julieta
Vou trotando o Corcel Negro, pela praia!
Flutuando como pássaro ligeiro, que alegria!
.
.
.
Ao passar o general, meus quatro dedos
lhe concedem continência com respeito!
E a praça me aparece tão distante...
e o povo me parece satisfeito
com as pérolas atiradas por palhaços...
que adormeço de cansaço antes do sono

Operário de palavras que escreve,
torturado na masmorra como escravo.
Que tristeza!

Sim senhor! Ao trabalho, aperto um parafuso!
Me desculpe!
Desaparece a praça no infinito do desejo!
Cala-te macaco!
Sufoco uma vez mais o realejo!





Não me peçam gentileza! Vou dar murros!

Vou a guerra camaradas! Não à praça!
Batalhar por meus direitos e justiça!
Não me impeçam! Que delírio!
Assim sei que me diriam... que impropério!
A criança que me espera no barraco
Sente fome e desejos e não duvida
Que um dia o império se despeça!

Vou a guerra camaradas! Não me julguem
Estar louco! Não maltratem com descrenças
A esperança... Quero um jarro d'água
Para acalmar a sede
de vingança, antes que seja tarde.
Não é nada comparado a decalitros
De suor que derramo na fornalha
de meu rosto todo dia, como rio
a correr para os esgotos

Vou a guerra meus queridos companheiros...
Não me peçam gentileza! Vou dar murros
Com vontade e sem destreza, vou rebelde
Arrebentar a jugular do general
Que devora minha carne. Sou selvagem!
Eu entalho uma bandeira no granito, sou gitano!
Digo mais! Que a greve já é coisa do passado!
De tão grave que se encontram os sindicatos
Como mortos, secretários, cemitérios!

Da greve fiz a guerra
De pedra fiz o poema!

A moeda é como flor
que desaba na calçada
Troco as fraldas da criança
São as regras garimpeiro
De esmeraldas no bueiro.

E o general... se afoga em nossa hemácia
Que delírio, vê-lo assim, deselegante!
Despenteado!
.
.
.
Passa o tanque e os soldados enlatados...
Mas... Humpf... a guerra me parece solitária...
E a vontade dos colegas me parece tão domada!
Já não são mais camaradas... São sisudos!
Adormecem entorpecidos pelas drogas... Que absurdo!
Violentam as esposas e despistam a tristeza com o jogo!
Depositam seus desejos nos domingos!

Vou pra cama meus amigos...
E passa o general com mais medalhas tinindo
no peito...
Em meu ombro, toda a culpa de ser fraco,
E dormir a cada dia mais insosso!

Choramingo de revolta, tremo inteiro...
A gangrena comungando sua derrota!
Chega o dia general!
Como eu vi os faraós se agitarem
Quando o povo ergueu bem alto
as bandeiras lá no Egito!

Vou dormir vasculhando a história
Maquinar mais um esquema junto às massas
Vou bordar outra estrela no uniforme
E passear pelos escombros da hecatombe!
Vou deitar mordendo os dentes nos entulhos,
e no partido, organizar outra investida ao território!

E o realejo vai soar tão excitado
Que os poemas vão brotar no azulejo

Chega o dia general!
Chega o dia!
Ah! Eu sei que chega!
Como eu vi se agitarem no Egito!