30 de outubro de 2023

Pela fresta eu vejo a festa

 Agora sou eu e você, ninguém mais

Vai entrar por agora. São os fatos

A ser encarados, você e eu e a paz!

Levanta depressa rapaz, já é hora.

 

Dê-me a mão bem de leve e perceba

Que o toque suave te acalma, sou eu...

Quem mais poderia ser? Seu pai? Seu irmão?

Tudo é mistério para ti, eu sei. Como não?

 

Respire, acalme, recite um poema,

Talvez sinfonia inteira... a quinta? A nona?

Olvida-te da melatonina, da dipirona,

Agora o mar não tem onda, então rema!

 

Doí-te o peito, percebo o esforço

Na tentativa do braço, nas veias de seu pescoço...

Relaxa, não é pela força e sim pelo abraço.

Tu tens um espaço de tempo entre o fim e o começo.

 

Um velho bateu tua porta,

Receba do vento um sussurro.

São boas notícias por vias bem tortas,

Espia na fresta do muro, verás linda festa!

 

Lenta... calma... como a planta que cresce

Em tempo de tempestade e parece que nunca

Desiste. Então senta-te e assiste a fera adormecida.

O fim de uma era que já não existe!

Sou eu e você e esse velho! O pai o filho...

E a mãe, que se chama primavera!

Sou eu, você e o universo

E aquele intensíssimo brilho.

 

Megatons de olivas nucleares

Ou orgias celulares,

Ou vaginas seculares,

Ou ogivas circulares... Qualquer coisa, Marraquesh!

 

Sou eu, você e o fim de tudo que existe...

Abraça-me bem calmo... a morte não é tão severa...

Se existe paraíso, não será aqui nesta terra!

Fecha bem os olhinhos...

Que um passarinho já traz um raminho de erva!

 

 

 

 

Esperança! Esperança! Onde descansa teus medos?

Quero ser como a criança a rodopiar seu brinquedo!

Eu me canso e percebo a doença roendo meu dedo

Que se pinta de vermelho e reage ao toque do cianureto!

 

Esperança! Esperança! Onde dorme o terremoto?

O tsunami, apocalipse, psicose a overdose de receio?

Onde dorme tudo isso? Qual gigante travesseiro

Que acolhe a hecatombe? Qual lençol que os encobre?

Qual a rede os balança e os nina?

 

Diga-me tu bondosa menina... Musa agredida... sem paz!

Eu seu leito apedrejada... dize-me tu em teu sussurro, sem voz...

A esse filho que labuta nas areias do deserto,

Enfiado numa gruta... que rasteja para ressuscitar.

 

Recitar mais um poema para mais uma vez perguntar:

- Esperança! Esperança, onde guarda tuas armas?

Em qual bunker tu descansas? Em qual terra te reteram?

 

Teerã, Bagdá, Polinésia? Em que terreiro?

Vou buscar teu cativeiro... Cavucar uma trincheira

Farejar pelo teu cheiro... Nesse rastilho de bombas

Hastear minha bandeira!

 

Esperança, esperança, onde dorme amordaçada??

Grita alto, Esperança! Já ergui a barricada, já enchi

Todo meu peito...

A doença, o escorbuto, a navalha... tudo isso

Em meu domínio... eu controlo as ventanias...

E meu dedo faz magias que acordam o mundo inteiro!

 

Esperança, esperança! Me espere, eu não demoro!

Encilhei o meu cavalo, meu cachorro vai ligeiro!

A manhã já vem trazendo meus amigos, ouça o coro!

Coração bombardeando, enrijecendo os membros!

 

Ah minha pobrezinha... abra os olhos mocinha!

Chegamos, perceba a banda na praça!

Ouça a canção que se alinha... a flauta... o clarinete!

Respira em minha máscara de oxigênio!