Eu tenho saudade da terra, sabe?
Aquela bem preta, repleta de inseto,
De larvas e bactérias...
Que acolhe o suor do trabalho,
Que serve, para casa, de alicerce...
Da terra que a broca do dono da SpaceX
Perfura profunda no veio-minério de Vegas.
Da terra, que o bate-estaca arrebenta e
Faz brotar água do velho Arquimedes
Moleque.
E ver o besouro del Sup-marcos, que na verdade
É um escaravelho, rolar uma bola de bosta
Pela epiderme do pasto, fecundar ovos...
Ferver caramujos no mesmo calcário da rocha
Fazer um calvário naquela caverna do santo sudário.
Aquela que nos revela e que nos enterra
Entrar numa gruta, cavar um buraco bem fundo,
Com a picareta, bater numa pedra,
Criando faísca na força do braço, o solo mais solto
O sol o faz fresco, o corpo mais perto do centro
Do mundo... um pouco mais dentro de tudo!
Eu mesmo me ver cavoucado, e ser devorado por vermes!
Meu dever dourado é deitar na chafurda. O pé, enfiar nessa
lama, no barro, na grama.
Na pele do meu planeta!
E o corpo bem magro, cansado na relva
Sem raiva, sem medo, sem nada.
Aquele cansaço que embriaga e
o cheiro do mundo miúdo migrando pelo
cerebelo...
raízes
pelo cabelo, argila pela virilha, areia nos cotovelos
Poeira
Mas hoje, perdido em meu
castelo,
De vidro (Covid), de
lights e pesadelos,
Paredes pesadas,
espelhos...
Estéril, esquálido,
espero por um conselho
Asséptico, intáctil, o
pacto do cavalheiro!
- Afasta da fera que te habita!!!
Aquele coitada... que nem é velha nem feia...?? Nao tenho medo.
Quimera cansada de
guerra, trancada no trono, escrava no tronco...
Escrevo calado nesse
carvalho, navalha sem ponta,
Escavo tranquilo no
labirinto, gorgulho que regurgita...
Engulo o orgulho...
Saudade do monstro
tranquilo dormindo ali no celeiro
Daquele espantalho sem
graça que descansava no galinheiro
Saudade da Terra sabe... aquela repleta de vida, que gira!