28 de dezembro de 2021

Eu tenho saudade da terra, sabe?

Aquela bem preta, repleta de inseto,

De larvas e bactérias...

Que acolhe o suor do trabalho,

Que serve, para casa, de alicerce...

 

Da terra que a broca do dono da SpaceX

Perfura profunda no veio-minério de Vegas.

Da terra, que o bate-estaca arrebenta e

Faz brotar água do velho Arquimedes

Moleque.

 

E ver o besouro del Sup-marcos, que na verdade

É um escaravelho, rolar uma bola de bosta

Pela epiderme do pasto, fecundar ovos...

Ferver caramujos no mesmo calcário da rocha

Fazer um calvário naquela caverna do santo sudário.

 

Aquela que nos revela e que nos enterra

 

Entrar numa gruta, cavar um buraco bem fundo,

Com a picareta, bater numa pedra,

Criando faísca na força do braço, o solo mais solto

O sol o faz fresco, o corpo mais perto do centro

Do mundo... um pouco mais dentro de tudo!

Eu mesmo me ver cavoucado, e ser devorado por vermes!

 

Meu dever dourado é deitar na chafurda. O pé, enfiar nessa lama, no barro, na grama.

Na pele do meu planeta!

E o corpo bem magro, cansado na relva

Sem raiva, sem medo, sem nada.

 

Aquele cansaço que embriaga e

o cheiro do mundo miúdo migrando pelo cerebelo...  

raízes pelo cabelo, argila pela virilha, areia nos cotovelos
Poeira

Mas hoje, perdido em meu castelo, 
De vidro (Covid), de lights e pesadelos,
Paredes pesadas, espelhos... 
Estéril, esquálido, espero por um conselho
Asséptico, intáctil, o pacto do cavalheiro!

- Afasta da fera que te habita!!!

Aquele coitada... que nem é velha nem feia...?? Nao tenho medo.
Quimera cansada de guerra, trancada no trono, escrava no tronco...

Escrevo calado nesse carvalho, navalha sem ponta,
Escavo tranquilo no labirinto, gorgulho que regurgita... 

Engulo o orgulho...

Saudade do monstro tranquilo dormindo ali no celeiro
Daquele espantalho sem graça que descansava no galinheiro


Saudade da Terra sabe... aquela repleta de vida, que gira! 

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