Navega, menino, navega!
Assim que partires do porto,
Medroso, matreiro, às cegas...
Num reverso de um aborto
Erguerão-te ao vento as vergas.
Nas eras que se virão
Por vezes encontrarás feras.
As heras desse verão
Ou talvez da primavera
Amanhecerão caravelas.
(Futuro que te espera)
Navega rapaz em seu mar!
Só vai... Em busca de teu arrebol
Alfarrábio, astrolábio, Si bemol...
Naufraga rapaz, não faz mal!
Virá o tempo do sal
em seus olhos, em seu lar!
Naufraga rapaz, há mais ilhas
Que são filhas de seu remar
E o suor nas escotilhas.
(Naufrágios não são tragédias.)
Afoga meu homem, afagas!
Nemo se ausenta! Te solta das rédeas!
Um murro nos mares, adaga nas vagas...
Nadar é contracorrente!
Te solte as amarras!
Teseu larga as peças do barco
Boiando no rastro de espuma,
para que o reconstrua.
Maria migalhas espalha
Na trilha que descontinua...
Perdido amigo... agora gargalha!
Meu lobo, meu lábio! Estou louco?
O lóbulo frontal se confunde
no pouco de força que afunda...
Ao fundo um velho responde:
- Insufle as velas, se zarpe!
Descansa meu velho
Menino jogado ao mar.
Jangada bem frágil,
Quase uma casca de noz.
Descansa no vento de duzentos nós.
O ciclone é suave... A nave navega em paz.
Descansa meu velho
Rapaz que comeu cogumelos
Com fome de sonhos,
De sagas. Deformas o cerebelo.
Descansa carinho, o mar também é menino!
Desarma das velas meu homem marujo!
Marmanjo, barbado, beiçudo!
Faz rezas pro anjo da guarda...
Às lendas de antigas esquadras,
Desista do mapa, corsário! Estrelas já vê amarelas!
Meu velho! Amigo, irmão, companheiro...
Acabou o dinheiro, o gás, o martírio!
Descanse os olhos tranquilo,
Seu sonhos eternos de certo, não serão delírios...
Navega meu filho, navegas nas vagas, nas folhas!
Há falhas, falésias, navalhas, vai vesgo no visgo da lesma.
Osíris, Oxóssi, osmoses de Deuses.
O Sol será sempre a estrela...
Seu pai guiará no caminho!
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