4 de março de 2011

O verso do não amor


Não te amo, é certo!
Pena que não acreditas e
Insistes em algo que não existe
É armadilha, cuidado!

Não amo nem me apaixono...
Me aproximo como lobo sem matilha
pelo faro e feromônio, apenas
Dessa maneira não sofres
Da mesma maneira não sofro
Domina o seu demônio
Capo o capeta confuso

É óbvio que não te amo
Desejo apenas de carne,
Por necessidade de homem
Por delicadeza respeito
As regras do galanteio
Floreio a cama e canto

Definitivamente te esqueço
Como a carteira na mesa
Por ser moça da igreja
Não amo por serdes burguesa

Assim que adormeço
Após o orgasmo e o gozo
Outros sonhos me tropeçam
Embaraçam meus esquemas

Não te amo pois é caro
O amor de um homem cansado
Não o compras no mercado
Nem com vasos de cerveja
A certeza é que não amo!
Acertado!

Não te amo, pois sou breve
E leve em meus sentimentos
Como bóia no naufrágio
Como a brisa
Como erva no cigarro
Como fezes
Como fazem os capitalistas
Não possuis meu afeto
Apenas o meu desejo

Sou concreto
Miro meu objeto
Domino o animal no cio

Não te amo, me protejo
Na concha da ostra sem pérola
No estojo do caramujo
Na colcha de cama vazia

Não te amo, porque não quero
Ter ao meu lado dura tortura
Eterna e noturna

Não te amo, está decidido!
Aborto o sonho, ejeto!
Rejeito o projeto
São meus direitos!

Desmancho o castelo
De areia
Sou claro
Recolho o poema
Visto o pijama...
Já é tarde, melhor ir pra casa!


Gritas bem alto na rua de pedra:

- COVARDE!

Que importa! Já é mesmo bem tarde!






Abaixo segue o comentário de uma grande amiga... Um dia acho que a respondo com muita gentileza e atenção, mas ainda não é o momento para isso! Obrigado pelas palavras...


Hoje li seu poema do não amor.
Lindo...mas tão triste...
Tão triste um homem tão jovem, apesar de tão vivido, ser tão duro consigo mesmo.
Triste um homem que, pelo pouco que sei, adora entrar em lutas por grandes causas e,
Justamente dessa, corre armado até os dentes.
Que tanto não amor é esse?
Questiono apenas por nunca ter visto isso tão explicitamente.
Admiro sua coragem de expor uma ferida tão aberta.
Pode ser que eu não esteja certa, mas o nome disso não é “não amor”,
O nome disso, com todo o perdão da palavra, é cagaço.
E entendo. Eu também já senti tudo isso. Já escrevi sobre isso. Mas nunca contei. Mal contava pra mim...escrevia e não lia nunca mais.
No que você acredita? Numa vida sozinho? Com o seu pijama e a colcha vazia da tua cama?
Além do seu corpo de homem, sua alma não reclama?
E não se trata de coração, pois você poderia me dizer: melhor assim, o amor é que pode trazer dor.
E o vazio? Não te incomoda não?
Não lhe falta corda pro violão?
E a falta de alguém pra compartilhar, você jura que nunca lhe tira o ar?
Jura que você não esvazia com tanto gozo desse corpo de homem cansado, sem ter ao menos o cuidado de talvez poder amar aquela mulher não como um objeto que você gosta, mas como a perola única da concha de uma ostra?
E depois de tantos orgasmos, que sonhos são esses que te tropeçam?
Com o que você sonha?
Com um grande amor retribuído num lindo poema?
É isso que embaraça o seu esquema?
Não que você precise, mas me convença da dura tortura de ter um amor do seu lado.
É seu direito querer acreditar nisso. Fingir que acredita.
Mas uma hora o coração grita.
E quando isso acontece, não há poema que se recolha...
não há essa sua escolha medrosa do não amor.
Seja como for
desde já, lhe digo...
Leve, nada tem a ver com breve,
meu caro amigo...

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